São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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'Uruguai não estimula lavagem'

MARCIO AITH
DO ENVIADO ESPECIAL

É mais fácil lavar dinheiro em empresas do setor produtivo do que em instituições criadas em paraísos fiscais e protegidas pelo sigilo bancário.
Essa é a opinião de Alberto Scavarelli, subsecretário da Presidência da República do Uruguai e secretário-geral de uma junta nacional de repressão ao tráfico de armas e de drogas.
Scavarelli, um dos elaboradores de um projeto de lei que transforma a lavagem de dinheiro em crime no Uruguai, diz que seu país não tem vocação para esquentar dinheiro do crime.
Segundo ele, o sistema legal uruguaio tem mecanismos para impedir essas irregularidades.
"Nosso Judiciário tem orgulho de sua independência e tem quebrado o sigilo bancário de várias empresas, em diversas investigações criminais", diz ele.
Scavarelli deu uma entrevista à Folha sob a condição de não falar sobre casos concretos.

Folha - O Uruguai tem clima propício para a lavagem de dinheiro?
Alberto Scavarelli - Não, o Uruguai não estimula a lavagem de dinheiro. Os bancos uruguaios não tem conta numerada, e o Judiciário tem todo o poder de quebrar o sigilo de empresas em casos criminais e de família, envolvendo menores.
Folha - Mas a Justiça suíça também tem aceito a quebra do sigilo e não impediu a lavagem.
Scavarelli - Isso agora. No Uruguai, sempre foi assim.
Folha - Porém, no Uruguai também há sigilo societário. As sociedades anônimas podem ter acionistas secretos, que não aparecem.
Scavarelli - A lei, no entanto, exige que ao menos um representante seja público.
Folha - Mas esse representante geralmente é um assessor ou advogado. Quase nunca é o dono.
Scavarelli - Pode ser, mas isso não é um problema somente do Uruguai. Os donos de empresas nos Estados Unidos, Brasil ou Chile podem ser testas-de-ferro. Esse problema não advém do sigilo societário, mas sim da intenção de cometer crimes.
Folha - Qual é a lavagem de dinheiro mais difícil de combater?
Scavarelli - Quando é feita numa empresa industrial ou de serviços com faturamento prévio, alto e legítimo. Ou seja, quando dinheiro bom se mistura com dinheiro ruim. A idéia de que dinheiro só é lavado em empresas obscuras e vazias está superada.

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