São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Conselho regulamenta mudança de sexo

FABIANA MELO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após determinar, no dia 6 de agosto, que as cirurgias de neurotripsia e alongamento peniano de vem ser praticadas em caráter experimental, o CFM (Conselho Federal de Medicina) já definiu a próxima tarefa: regulamentar até o final do ano as cirurgias de transgenitalização (mudança de sexo). Segundo o secretário-geral do conselho, Antônio Henrique Pedrosa, em debates com vários profissionais a entidade concluiu que uma parte da população deve ter acesso a esse tipo de cirurgia. "Muitos se mutilam para poderem ser operados", afirmou Pedrosa.
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Folha - O que motivou o CFM a classificar as cirurgias de alongamento peniano e neurotripsia como experimentais?
Antônio Henrique Pedrosa - É que hoje passou a ser uma prática comum no Brasil e está sendo divulgada para a população em anúncios nos jornais e revistas como uma prática "mágica" que iria resolver os problemas sexuais da população masculina. Essa técnica (alongamento peniano) existe e é, do ponto de vista ético, perfeitamente indicada. Mas só para as correções estéticas e não para corrigir disfunções sexuais.
Folha - A neurotripsia também pode ser aconselhada para correções estéticas? Pedrosa - No caso da neurotripsia não há nenhuma possibilidade de indicação. A cirurgia de alongamento peniano é um caso muito específico, mas não visando a disfunção sexual, só a correção estética. Essa técnica tem sido divulgada para a população exatamente do modo contrário. Exatamente para corrigir disfunções sexuais e proporcionar maior prazer sexual ao homem.
Folha - Era considerada propaganda enganosa?
Pedrosa - Isso mesmo. Mesmo porque a neurotripsia para correção da ejaculação precoce não tem nenhuma base científica até hoje confirmada. Pelo contrário, ela macula a própria natureza, destrói os elementos nervosos que permitem a estimulação sexual. Folha - Há mais alguma prática em estudo pelo CFM?
Pedrosa - Agora mesmo nós tivemos alguns debates, chamamos pessoas das áreas em questão para discutir o transexualismo. Acho que ainda este ano devemos sair com uma resolução regulamentando a cirurgia de conversão sexual, de transgenitalização.
Folha - E por que o CFM decidiu regulamentar agora a cirurgia de mudança de sexo?
Pedrosa - Porque estamos hoje convencidos de que o transexual não aceita sua condição, ele vive em eterno conflito. Há uma figura que ilustra bem: é uma pessoa viver presa dentro do seu próprio corpo. Alguns passavam pela cirurgia fora do Brasil, outros passavam por uma cirurgia experimental. Muitos se mutilavam em casa para serem atendidos e operados. Há uma parcela da população que precisa do acesso à moderna medicina para que tenha seu bem-estar físico garantido.

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