São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Elite é maioria em universidades federais

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pesquisa inédita realizada entre alunos de universidades federais aponta, em números exatos, a mais comentada distorção do ensino no país: a maioria das vagas é mesmo ocupada pelos filhos da elite econômica.
Segundo levantamento da Andifes, associação das próprias instituições federais de ensino superior, em 44 das 52 que existem do país, 56% dos alunos são provenientes das classes A e B.
São também 55% dos alunos os que pagaram por um ensino secundário de melhor qualidade -na rede privada- antes de chegar ao melhor ensino superior -público e gratuito.
Os mesmos números, entretanto, podem ser interpretados de outra maneira -a proporção de estudantes provenientes das camadas menos abastadas da população não é tão pequena assim.
"Isso prova que não há só ricos nas instituições federais. Há uma grande concentração nas classes C, D e E, e a classe B é a classe média, que está bastante espoliada e com poder aquisitivo reduzido", diz José Ivonildo do Rego, reitor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e vice-presidente da Andifes.
Para definir as classes às quais pertencem as famílias dos alunos, levou-se em conta o acesso a serviços e bens de consumo declarado por uma amostra de 32.348 estudantes (9% do total de 356.069).
Na classe B, por exemplo, se enquadra uma família que tenha carro, TV a cores, banheiro em casa, empregada mensalista, rádio, máquina de lavar roupa, aspirador de pó, geladeira e cujo chefe tenha curso superior.
Estudantes de famílias com esse padrão de consumo ocupam 43% das vagas nas instituições federais de ensino superior.
Para ingressar na classe A, a família do exemplo anterior precisaria de três banheiros em casa, mais um carro, um videocassete, duas TVs e outros dois rádios. Estudantes de famílias com perfil semelhante são 13% nos cursos federais.
No outro extremo do espectro socioeconômico, os alunos provenientes da classe E são apenas 3%. Suas famílias têm, quando muito, um banheiro em casa, uma geladeira, uma TV a cores e um chefe com 1º grau incompleto.
As classes C e D, que compõem o segmento vulgarmente conhecido como classe média baixa, respondem por, respectivamente, 31% e 10% das vagas nas universidades e faculdades federais.
Como é óbvio, as proporções entre as classes são totalmente diferentes quando se leva em conta o conjunto do país.
Uma pesquisa realizada pela Marplan Brasil em nove capitais do país mostra que 2% da população está na classe A, 19% na B, 30% na C, 28% na D e 21% na E.
Há disparidades, também, entre universidades e regiões. A Universidade de Brasília, por exemplo, figura na lista das mais elitizadas. Entre seus alunos, 28% são da classe A, e 46%, da B.
Nas regiões mais pobres do país, ocorre o inverso: a proporção de alunos das classes mais baixas supera a média nacional.
No Nordeste, 31,8% dos alunos são da classe C, 12,94% da classe D e 5,12% da E. Ao todo, quase a metade -exatamente 49,86%- dos estudantes está fora do que poderia ser chamado de elite.
É na região Sul que se verifica a maior concentração de alunos das classes A e B: 65,46% do total.

A pesquisa foi feita no segundo semestre de 96 com base em uma amostragem de 32.348 estudantes de graduação, tanto do início quanto do meio e do fim do curso. Responderam ao questionário alunos de 44 das 52 instituições federais de ensino superior. A falta de informação foi elevada na região Norte (52%), enquanto na Nordeste foi de 0,55%, na Sudeste, de 2,24%, e na Sul, de 8,36%. Todas as instituições da região Centro-Oeste participaram da pesquisa.

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