São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Só 2% dominam língua francesa

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

No início dos anos 70, um terço dos candidatos ao vestibular em São Paulo escolhia o francês como idioma estrangeiro. A opção não existe mais na Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular).
O desaparecimento do francês do meio acadêmico é confirmado pela pesquisa da Andifes junto às universidades federais: somente 2% dos estudantes disseram ter domínio da língua francesa.
Ainda em São Paulo, das cerca de 6.700 escolas da rede pública estadual, só quatro ainda mantém o francês em seus currículos. O idioma atraia 5% das matrículas em 1978 e era obrigatório até 1985.
Não que, depois disso, tenha sido proibido. Mas diante da possibilidade de se escolher apenas "uma língua estrangeira moderna", o inglês levou a melhor.
Este ano, diz Gislaine Trigo, coordenadora de normas pedagógicas da Secretaria da Educação do Estado, estudam francês nos centros estaduais de ensino de línguas (os CEIs) 7.332 alunos.
Mas é uma parcela insignificante dos 3,8 milhões de crianças e adolescentes matriculados na rede pública a partir da 5ª série (idade para aprender um outro idioma).
O ensino de idiomas obedece, a seu modo, à lei do mercado: a oferta se adapta à demanda. O francês, segunda língua por excelência num Brasil de oligarquia bilíngue, até décadas atrás, não é mais uma cobiçada matéria-prima cultural.
A hegemonia do inglês se traduz por um outro exemplo. Entre os cursos de letras da USP (Universidade de São Paulo), cada vaga de francês foi disputada este ano por menos de quatro candidatos. As de inglês foram disputadas por 20.
Ainda na USP, a coordenadora de francês em Letras Modernas, Veronique Dahlet, constata que, além de razões econômicas e culturais, os EUA conseguiram praticar uma política agressiva de imposição de seu idioma em ciência e tecnologia. Os europeus -França incluída- não fizeram o mesmo.
Assim, diz Jean-Claude Reith, diretor da Aliança Francesa em São Paulo, "foi o inglês que se tornou uma língua universal, o elemento de base para a formação do cidadão-trabalhador".
A Aliança, mais tradicional instituição no ensino do francês, tinha em São Paulo perto de 6.000 alunos há 15 anos. Eles hoje são 3.500.
Há cerca de dois anos, a Embaixada da França estimava entre 1,5 milhão a 2 milhões os brasileiros com conhecimentos do francês.
O número real, porém, deve ser menor. Embora não haja estatísticas de audiência, sabe-se que a TV5 (canal de TV paga em francês) tem poucos telespectadores.
Preferencialmente, talvez, os 40 mil franceses ou descendentes diretos que hoje vivem no Brasil. É uma estimativa do Quai d'Orsay, sede da diplomacia francesa.

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