São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Onda da 'Bolsa sem risco' traz polêmica

GABRIEL J. DE CARVALHO

GABRIEL J. DE CARVALHO; VANESSA ADACHI
DA REDAÇÃO

Administrador critica fundos que, mesmo operando com renda variável, garantem o que foi aplicado

VANESSA ADACHI
"Bolsa sem risco" é a nova moda entre fundos de investimento. Para quem ainda não conhece, é fácil identificar. Na maioria das instituições que oferecem o produto, ele se chama capital garantido.
São fundos que, mesmo com operações ligadas à Bolsa, garantem ao investidor a devolução de pelo menos o dinheiro aplicado.
Existem no país desde 1995, mas vêm se multiplicando com a ressaca das Bolsas de Valores. O investidor iniciante ficou assustado.
Percebendo esse estado de espírito, bancos e corretoras sacaram da gaveta planos de lançar o capital garantido. Os que já tinham deram maior visibilidade ao produto.
Pelo menos um administrador de fundos, entretanto, não vê com bons olhos essa onda.
David Gotlib, diretor da Linear Investimentos, não poupa críticas ao capital garantido. Seu argumento, exposto até com simulação de resultados (ver tabela abaixo), é o de que só a partir de uma alta anual de 50% na Bolsa o fundo começa a render mais que os juros.
"Se a Bolsa subir muito, o cliente recebe só uma parte. Se cair, seu capital fica parado, sem nem mesmo ter juros", diz ele.
Para que o capital fique protegido, esses fundos levam para o mercado de opções de Índice Bovespa apenas o rendimento de renda fixa esperado no prazo da operação.
"Se você quer aprender a nadar, não entre na água de bóia. Aprenda de fato a nadar", compara Gotlib, recomendando a renda fixa a quem não tolera volatilidade.
"Para quem nunca nadou, se não der a bóia ele não vai aprender a nadar", retruca Roberto Lara Nogueira, diretor do Banco Bandeirantes de Investimentos, que já captou R$ 30 milhões em cinco fundos de capital garantido.
Esses produtos trazem para a Bolsa novos investidores que ainda têm receio de perder, argumenta Nogueira.
"Para investidor que nunca entrou na Bolsa o fundo tem função didática", concorda Marcelo Giufrida, vice-presidente de investimentos do Banco CCF Brasil.
Ele reconhece, porém, que há produtos melhores. "É como vinho alemão para quem nunca tomou. Quem conhece sabe que tem coisa melhor", comenta.
"Quando fizemos o Guaranteed Capital 1, em julho, alguns clientes que ficaram de fora pediram o produto", justifica Dilma Barbosa Lima, diretora do Banco de Boston.
Denise Moura, diretora técnica do Bradesco, que também aderiu ao capital garantido, diz que para esse fundo vale o mesmo raciocínio de um fundo de ações: "Não é um investimento para quem precisa do dinheiro no curto prazo; para esses o melhor é a renda fixa".
No primeiro Bradesco Fundo de Principal Protegido foram captados R$ 5,5 milhões de 61 clientes.
Segundo Denise, parte dos clientes que estão aderindo está migrando da renda variável pura e parte é de aplicadores novos. "A Bolsa está negativa, o que dificulta a captação", admite a executiva.

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