São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Crise atrapalha projetos políticos da CUT

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise na Articulação, tendência majoritária na CUT (Central Única dos Trabalhadores), deve atrasar os projetos políticos da central para próximo ano.
A CUT esperava sair fortalecida de seu 6º congresso nacional, que termina hoje, em São Paulo, e reforçar a oposição aos projetos do governo de Fernando Henrique Cardoso.
O presidente da central, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, chegou a anunciar como uma das bandeiras da CUT para 98, ano eleitoral, a intensificação de manifestações e greves contra as políticas neoliberais de FHC.
Antes do início do congresso, a CUT até exibia números que a credenciavam a funcionar como principal força de oposição.
Apesar da crise que atravessa o movimento sindical, a CUT conseguiu, nos últimos três anos, aumentar em 46,34% seu número de filiados. Eles saltaram de 4,1 milhões para 6 milhões.
"Somos a única central do país que conseguiu se manter unida e crescer nessa década", afirmou Vicentinho.
Divergências
Mas as divergências entre o grupo de Vicentinho e os bancários, ambos da Articulação, dominaram o congresso e emperraram as discussões políticas do evento.
A crise começou há cerca de um mês, com a decisão de Vicentinho de concorrer à reeleição na CUT.
A decisão derrubou as pretensões do bancário João Vaccari Neto, atual secretário-geral, de ocupar o cargo de presidente.
Um dia após o anúncio de Vicentinho, os bancários avisaram que não apoiariam seu novo mandato.
Eles acusavam o presidente da CUT de ser personalista e centralizador e de ter tomado decisões sem consultar a diretoria. Entre elas, a convocação de uma greve geral neste ano, que acabou não acontecendo.
Duas comissões montadas na Articulação durante o congresso estão tentando evitar o racha.
Os bancários exigem uma espécie de pacto de gestão que diminua os poderes do presidente para indicar nomes para a diretoria executiva.
"Temos que superar o presidencialismo na CUT. Ela precisa de um presidente, mas também precisa democratizar suas decisões", afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ricardo Berzoini.
Vicentinho, porém, não aceita o acordo. "Não precisamos de um pacto de governabilidade porque ela nunca esteve ameaçada", diz.
Com a falta de acordo, as eleições da nova direção nacional, que acontecem hoje, ainda estão indefinidas. Os bancários ameaçam não votar em Vicentinho.
Caso a posição dos bancários se confirme no pleito de hoje, será o maior racha já enfrentado pela Articulação, que sempre dominou a CUT e a manteve unida desde sua criação, em 83.
Sem o apoio dos bancários, Vicentinho também corre o risco de se reeleger sem a maioria dos votos dos 2.255 delegados.
Com tendência majoritária, a Articulação deve indicar entre 18 e 20 dos 32 cargos da diretoria executiva nacional. O restante fica para as outras correntes políticas.
Além de Vicentinho, mais dois candidatos concorrem à presidência. Wagner Gomes, da CSC (Corrente Sindical Classista), e Jorge Luiz Martins, de uma frente reunindo a ASS (Alternativa Sindical Socialista), o MTS (Movimento por uma Tendência Socialista) e a Articulação de Esquerda.
O prazo para a inscrição de chapas termina às 11h de hoje. A votação está marcada para as 11h30.

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