São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Estrela muda para Via Láctea

DA "NEW SCIENTIST"

Nos últimos dois meses, alguns astrônomos informaram ter encontrado mais evidências que apontam para a existência de matéria vinda de fora na Via Láctea.
A maioria dos elementos mais pesados que o hélio é gerada em supernovas. Mas existem duas variedades principais de supernovas, e cada uma delas produz uma infusão química diferente.
A maioria das supernovas ocorre após a explosão de estrelas maciças. Elas expelem grandes quantidades de oxigênio, magnésio, silício e outros elementos.
As estrelas maciças morrem em pouco tempo, de modo que começaram a regar nossa galáxia com esses elementos praticamente assim que ela nasceu.
O outro tipo de supernova é o das anãs brancas em explosão, estrelas pequenas que expelem quantidades enormes de outro elemento, o ferro. Como elas vivem mais tempo do que as estrelas maciças, as anãs brancas começaram a explodir apenas depois de já formada a maior parte da auréola.
Assim, as estrelas na auréola de nossa galáxia receberam muito mais oxigênio, magnésio e silício do que ferro. Portanto, as estrelas na auréola tendem a ter razões muito mais altas de oxigênio/ferro, magnésio/ferro e silício/ferro do que tem o Sol, como os astrônomos descobriram nas décadas de 70 e 80.
Mas agora várias estrelas da auréola parecem estar rompendo com esse padrão. Jeremy King, do Instituto do Telescópio Espacial, em Baltimore, estudou a HD 134439 e a HD 134440, duas estrelas da auréola que se deslocam junto à constelação de Libra. No mês passado, King informou que ambas as estrelas têm razões de magnésio/ferro e silício/ferro muito inferiores às das outras estrelas na auréola.
Na realidade, suas observações confirmaram as descobertas publicadas pela astrônoma californiana Ruth Peterson, em 1981, antes de se saber que tais razões eram incomuns, e King diz que as duas estrelas podem ter vindo de fora da Via Láctea.
Vários astrônomos descobriram fieiras de estrelas da auréola que orbitam nossa galáxia de trás para diante.
A maioria das estrelas, incluindo o Sol, gira pela galáxia em sentido horário, quando vistas desde o norte do plano da galáxia, mas esses grupos de estrelas de auréola giram em sentido anti-horário.
Steven Majewski, da Universidade da Virgínia, encontrou estrelas desse tipo quando observou estrelas localizadas muito acima do plano da Via Láctea.
Majewski afirma que as estrelas que giram em sentido anti-horário podem ser os resquícios de galáxias que a Via Láctea capturou e aniquilou.
Mas essas vítimas galácticas podem ter sido "café pequeno" quando comparadas ao que muitos cientistas hoje acreditam ter sido o maior banquete já consumido pela Via Láctea -não uma galáxia pequena, como Sagitário, mas uma de proporções substanciais, mais ou menos do tamanho da Grande Nuvem de Magalhães.
As próprias Nuvens de Magalhães, Grande e Pequena, se confrontam com o mesmo destino sombrio.
Dentro de bilhões de anos, elas vão aproximar-se da Via Láctea em movimento espiralado, contribuindo para esta com enormes quantidades de gás e de estrelas.
O gás dessas nuvens vai acender fogos de artifício espetaculares quando colidir com o gás da Via Láctea, porque tais colisões desencadeiam explosões de formação de estrelas.
Nossa galáxia já arrancou uma trilha de gás das Nuvens de Magalhães, descoberta em 1973. Ela se estende por 300 mil anos-luz, mais de duas vezes o diâmetro do disco da Via Láctea.

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