São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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À ESPERA DA 3ª ONDA

Há um ano, o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciava que o Brasil estaria na iminência de uma "terceira onda" de desenvolvimento econômico. As outras ocorreram nas décadas de 50 e 70. Para FHC, a abertura do setor de telecomunicações marcaria o início da terceira.
Na primeira, o país chegou a crescer 10,8%; na segunda, 14%. Diante do crescimento contido que caracteriza o momento atual (4% ao ano, se muito), a economia continua à espera da terceira onda.
O exame dos números, entretanto, não é conclusivo. Pois, se é verdade que o tímido crescimento em nada fortalece as esperanças de um novo arranque, outras mudanças permitem expectativas mais otimistas.
Um ciclo de desenvolvimento econômico, por definição, começa quando se criam novas fronteiras de investimento. E é inegável que, desde meados de 1996, é possível vislumbrar frentes renovadas de expansão.
Estimulada pela redução gradual dos juros, pelo avanço das privatizações e por uma recuperação moderada das exportações, com o reaquecimento do setor agrícola e o novo boom do setor automobilístico, a economia dá sinais promissores.
O indicador mais recente que reforça um cenário de "decolagem" foi divulgado pela indústria de máquinas e equipamentos, que em junho teve uma alta de 5,9% no faturamento sobre o mesmo mês do ano passado. O consumo de bens de capital no primeiro semestre deste ano foi 7,06% superior ao do primeiro semestre de 1996. A Fiesp também tem atribuído uma recuperação no nível de atividade ao desempenho do setor de bens de capital.
Teoricamente, uma economia ingressa numa fase de desenvolvimento quando os investimentos aumentam mais que o consumo. Investir é criar capacidade de produção para consumir mais no futuro.
Alguns fatores podem sustentar essa retomada no setor de máquinas e bens de capital. A privatização vem dando lugar a novos esquemas de financiamento privado para projetos de infra-estrutura. Alguns governos estaduais, depois de uma fase de austeridade absoluta, voltam a gastar (também sob influência da temporada eleitoral que se aproxima, é verdade). O governo federal acaba também de eliminar a isenção que beneficiava os importadores de cerca de 3.600 máquinas e equipamentos, aumentando assim a proteção ao setor.
Mas a retomada dos investimentos e do consumo de bens de capital deverá continuar com forte componente importado, seja porque o parque industrial brasileiro atrasou-se tecnologicamente, seja porque em alguns casos os investimentos estrangeiros naturalmente tornam a estrutura da economia mais integrada ao processo produtivo global.
A maior dúvida não está na possibilidade da "decolagem", mas na capacidade da economia de sustentar seu vôo, de aumentar de fato a taxa de investimento em relação ao PIB.
A primeira fase da retomada do crescimento, com base no consumo, foi fácil. Foram decisivos os créditos externo e interno mais abundantes, a comodidade das importações baratas e modernizantes e os estímulos da própria estabilidade de preços.
A segunda fase exige mais. Investir e crescer será mais difícil com a redução das margens de lucro e o "pragmatismo" na área externa. Afinal, o investimento estrangeiro cresce, mas a dívida externa também. A crença na terceira onda é legítima e alguns indicadores setoriais inspiram otimismo. Mas ainda é cedo para dizer se esse futuro possível não vai desmanchar-se no ar.

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