São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Saiba o que muda nos importados

Carros são "tropicalizados"

HENRIQUE SKUJIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O carro importado que roda nas ruas brasileiras não é o mesmo que circula em outros países.
Particularidades técnicas, como a gasolina com álcool e as ruas esburacadas, obrigam as importadoras a "tropicalizarem" seus carros antes de os trazerem para cá.
As principais mudanças ocorrem no motor e na suspensão. Mas peças mecânicas, acabamento e equipamentos de conforto também são modificados em função das necessidades do mercado e do gosto do consumidor brasileiro.
Devido ao solo malcuidado das ruas brasileiras, as importadoras "suavizam" a suspensão para que os impactos dos buracos sejam melhor assimilados pela carro.
"Em média, levantamos a carroceria 20 milímetros", diz Ênio Feijó, engenheiro-chefe da Ford. Segundo Feijó, isso é obtido mexendo nos amortecedores e nas buchas de suspensão.
Além disso, muitas marcas preferem trazer carros com pneus de perfil mais alto. "Pneu com perfil muito baixo não aguenta o piso brasileiro", afirma Luiz Rosenfeld, diretor técnico da Mitsubishi.
O asfalto esburacado não leva somente a mudanças na suspensão. Como há muito acúmulo de água nas ruas e estradas brasileiras, "mudamos o posicionamento do filtro de ar para a água não entrar no motor", explica Feijó.
Gasolina com álcool
Os 22% de álcool misturados à gasolina brasileira também forçam mudanças no motor dos carros importados ao Brasil.
"Com essa porcentagem, o motor precisa de mais gasolina para fazer a mistura ideal ar-combustível, e a calibração do módulo da injeção eletrônica deve ser alterada", explica Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat.
Além disso, o álcool é mais corrosivo que a gasolina. "Por isso todo o material que for entrar em contato com a gasolina brasileira, como a bomba de combustível e o bico injetor, deve ser trocado para não apresentar corrosão precoce."
A Jaguar, antes de decidir pela importação do XK8, enviou 800 litros da gasolina brasileira para a matriz na Inglaterra.
"Depois dos estudos, eles decidiram trocar todos os dutos de combustível", diz Sérgio Habib, importador dos carros da Jaguar.
O fato de o Brasil ter temperaturas médias mais altas que as dos países de origem dos carros também dá trabalho aos técnicos da indústria automobilística.
"O resfriamento do motor tem de começar mais cedo e durar mais tempo", diz Michel Bernardet, gerente de pós-venda da Citroën.
Além das mudanças técnicas, as importadoras ouvem os consumidores antes de decidirem as especificações do modelo a ser trazido.
"Enquanto nos Estados Unidos o consumidor gosta de interior com tons claros, o brasileiro prefere cores mais escuras", conta Luiz Rosenfeld. "Ao contrário dos norte-americanos, o brasileiro não é fã de cromados", completa.

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