São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Vicentinho é reeleito com poder limitado

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, foi reeleito ontem presidente da CUT (Central énica dos Trabalhadores) para um mandato de mais três anos, mas será obrigado a dividir o poder com sindicalistas ligados aos bancários.
Um acordo na Articulação, tendência política majoritária na central, garantiu ontem a vice-presidência para o bancário João Vaccari Neto, que ocupava a secretaria-geral no último mandato.
O acordo da Articulação inclui também a aprovação de um documento com medidas para "democratizar" a gestão na CUT.
Na prática, ele é um pacto de gestão, que deve limitar a autonomia de Vicentinho.
O documento afirma, por exemplo, que qualquer decisão que envolva direitos dos trabalhadores deve ser discutida com a direção nacional e os sindicatos.
É mais um ponto para os bancários. A principal crítica que fizeram a Vicentinho foi "a seu caráter centralizador e personalista".
O presidente da CUT não teria, por exemplo, debatido com outros membros da central sua participação nas negociações da reforma da Previdência, em 96, e a convocação de uma greve geral para este ano, que acabou não acontecendo.
Vicentinho relativiza a indicação de Vaccari para a vice-presidência e nega que tenha tido seus poderes limitados (leia entrevista ao lado).
A indicação de Vaccari foi uma derrota para Vicentinho, que defendia a manutenção de Altemir Tortelli, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jacutinga (RS), no cargo.
Será a primeira vez, desde a fundação da CUT em 83, que a vice-presidência não será ocupada por um trabalhador rural. Tortelli ficará com a Secretaria de Formação Sindical.
Para a secretaria-geral, foi indicado João Felício, da Apeoesp, o sindicato dos professores do Estado de São Paulo.
O acordo que garantiu a vice-presidência para Vaccari só saiu na manhã de ontem, poucas horas antes da eleição no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
Foi uma das soluções encontradas para manter os bancários de São Paulo na direção nacional da entidade.
Com um dos principais sindicatos da central -orçamento de R$ 25 milhões-, eles ameaçavam não participar da chapa e fazer oposição à nova diretoria, desde que Vicentinho anunciou que disputaria a reeleição, há um mês.
A permanência de Vicentinho acabou com as chances de Vaccari ocupar a presidência, cargo que os bancários queriam desde a eleição anterior, em 94.
Caso o racha tivesse acontecido, Vicentinho correria o risco de ser reeleito com menos de 50% dos votos do congresso, o que seria outro fato inédito na CUT.
Segundo o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ricardo Berzoini, o documento foi elaborado por toda a Articulação, o que torna claro que as reivindicações dos bancários foram atendidas.
"Nós não queremos limitar o poder de ninguém nem disputar cargos. Apenas defendemos uma gestão mais coletiva", disse.
Para Jorge Luis Martins, que também concorreu à presidência, a solução para a crise na Articulação não garante a unidade na CUT.
"Em vez da CUT de um homem só, teremos a CUT de dois homens. Nós não precisamos disso, mas de pessoas que possam entender as necessidades da central", afirmou.
Além de Vicentinho e Martins, houve mais três candidatos à presidência da CUT: Hyrlanda Moreira, da CUT do Ceará, Wagner Gomes, dos metroviários de São Paulo, e Júlio Turra, dos professores do ABC.

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