São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Vicentinho é reeleito com poder limitado

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, foi reeleito ontem presidente da Central Única dos Trabalhadores por mais três anos, mas será obrigado a dividir o poder com sindicalistas ligados aos bancários.
A chapa 3, de Vicentinho, obteve 1.080 votos (52%) e indicará 17 dos 32 diretores da CUT. Em segundo lugar ficou a chapa 5, que reúne Alternativa Sindical Socialista, Movimento por Uma Tendência Socialista e Articulação de Esquerda, com 629 votos (30,28%).
Em terceiro ficou a chapa 2, da Corrente Sindical Classista (PC do B), com 282 votos (13,58%), seguida da chapa 4, do grupo O Trabalho, com 86 (4,14%), e da chapa 1, da Liga Bolchevique Internacionalista, com 16 votos. Houve ainda 5 votos em branco e 11 nulos.
Um acordo na Articulação, a tendência vencedora, garantiu a vice-presidência para o bancário João Vaccari Neto, que ocupava a secretaria-geral no último mandato. O acordo inclui também a aprovação de um documento com medidas para "democratizar" a gestão na CUT. Na prática, ele é um pacto de gestão, que deve limitar a autonomia de Vicentinho.
O documento diz que qualquer decisão que envolva direitos dos trabalhadores deve ser discutida com a direção nacional e os sindicatos. É mais um ponto para os bancários. A principal crítica que fizeram a Vicentinho foi "a seu caráter centralizador e personalista".
O presidente da CUT não teria, por exemplo, debatido com outros membros da central sua participação nas negociações da reforma da Previdência, em 96, e a convocação de um greve geral para este ano, que acabou não acontecendo.
Vicentinho relativiza a indicação de Vaccari para a vice-presidência e nega que tenha tido seus poderes limitados (leia entrevista ao lado).
A indicação de Vaccari foi uma derrota para Vicentinho, que defendia a manutenção de Altemir Tortelli, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jacutinga (RS), no cargo. É a primeira vez desde a fundação da CUT que a vice-presidência não ficará com um trabalhador rural. Tortelli irá para a Secretaria de Formação Sindical.
Para secretário-geral, foi indicado João Felício, da Apeoesp, o sindicato dos professores do Estado de São Paulo.
O acordo que garantiu a vice-presidência para Vaccari só saiu na manhã de ontem, poucas horas antes da eleição no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Foi uma das soluções encontradas para manter os bancários de São Paulo na direção nacional da entidade.
Com um dos principais sindicatos da central -orçamento de R$ 25 milhões-, eles ameaçavam não participar da chapa e fazer oposição à nova diretoria, desde que Vicentinho anunciou que disputaria a reeleição, há um mês.
A permanência de Vicentinho acabou com as chances de Vaccari ocupar a presidência, cargo que os bancários queriam desde a eleição anterior, em 1994. Caso o racha tivesse acontecido, Vicentinho correria o risco de ser reeleito com menos de 50% dos votos do congresso, um fato inédito na CUT.
Segundo o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ricardo Berzoini, o documento foi elaborado por toda a Articulação, o que torna claro que as reivindicações dos bancários foram atendidas. "Nós não queremos limitar o poder de ninguém nem disputar cargos. Apenas defendemos uma gestão mais coletiva", disse.
Para Jorge Luis Martins, candidato a presidente pela chapa 5, a solução para a crise na Articulação não garante a unidade na CUT. "Em vez da CUT de um homem só, teremos a CUT de dois homens. Nós não precisamos disso, mas de pessoas que possam entender as necessidades da central", afirmou.

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