São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fateh Ali Khan era o "Pavarotti qawwal"

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O músico paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan, 49, morreu sábado em Londres, em consequência de uma hepatite. Pela popularidade e pela compleição física, ele era considerado o "Pavarotti qawwal".
Qawwal é o termo que designa o intérprete de qawwali, a música devocional do sutismo (misticismo arabico-persa, que sustenta ser o espírito humano uma emanação do divino).
Trata-se de poesia religiosa transformada em música, com a finalidade de levar os fiéis ao êxtase místico. Dança, palmas e repetições de conotação hipnótica fazem parte de suas técnicas.
Basicamente, seus grupos são formados por um cantor principal (função de Khan, que atuava como uma espécie de regente para orientar a improvisação coletiva), um ou dois cantores secundários, que tocam harmônio (pequeno órgão de palheta) e pelo menos um percussionista encarregado das tablas (par de pequenos tambores percutidos com a mão).
Essa tradição islâmica do século 13, transmitida pela família, é exclusivamente masculina -Khan tinha uma filha, mas, como ela não podia integrar o grupo, transmitia seus ensinamentos ao sobrinho, Rahat.
Nusrat Fateh Ali Khan nasceu em 13 de outubro de 1948 na cidade paquistanesa de Faisalabad. Seu pai, Ustad Fateh Ali Khan, embora fosse um qawwal, idealizou para o filho uma carreira na medicina.
Mas, com a idade de 17, um ano após a morte do pai, Nusrat estava cantando no grupo de seu tio, Ustad Mubarik Ali Khan, em uma parceria que durou até a morte deste, em 1971.
Hit
Nusrat logo formou seu próprio grupo, ganhou fama crescente no Paquistão, onde era conhecido como Shahen-Shah (a estrela mais brilhante), e no Ocidente, virando hit nas pistas de dança em 91, graças a seu trabalho com o compositor Michael Brook (no disco "Musst Mustt") e à remixagem de seus temas feita pelo grupo Massive Attack.
Nascia a "disco/jazz tarana" -estilização da tarana, técnica vocal baseada na utilização de sílabas persas com significado secreto- que escandalizou os puristas. Outra concessão aos ouvidos ocidentais foi a aceleração do andamento tradicional da música.
No Brasil, seu trabalho passou a ser divulgado a partir de sua vinda ao Festival de Inverno de Campos do Jordão, em 1994.
Seu nome aparece em mais de cem álbuns, incluindo remixagens e coletâneas.
O destaque vai para "En Concert à Paris - Vol.1", primeiro de um conjunto de cinco volumes lançado pela gravadora francesa Harmonia Mundi.

Texto Anterior: "Elvismaníacos" invadem Memphis
Próximo Texto: USP debate obra de Cralos Drummond
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.