São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997 |
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IRMÃOS STENBERG
ALESSANDRO BARROS GRECO
Nunca pegaram em armas ou alimentaram os ideais da guerra. A revolução dos irmãos moscovitas foi no design gráfico moderno. A mostra "Irmão Stenberg: Construindo uma Revolução no Design Soviético", que fica no MoMA (Nova York) até 2 de setembro, faz justiça ao talento pouco conhecido dos irmãos. Esse "pouco caso" não foi privilégio apenas dos Stenberg. Eles o compartilharam com toda uma geração de artistas soviéticos dos anos 20 cujos trabalhos caíram em desgraça nos anos 30, quando o líder soviético Josef Stálin impôs o realismo socialista como modo oficial de representação artística. Em sua curta carreira conjunta -Georgii morreu em acidente de moto aos 33 anos-, os irmãos Stenberg produziram esculturas, cenários e figurinos de teatro, capas de livros e projetaram e decoraram o interior de edifícios para o governo soviético. No entanto, foi nos pôsteres criados para filmes de todos os tipos -dos patrocinados pelo governo soviético aos hollywodianos- que eles mais se destacaram. Eles são considerados os introdutores do movimento e da simultaneidade de imagens em pôsteres. Criaram desde peças para filmes como "O Encouraçado Potemkin" e "Outubro", de Sergei Eisenstein, feitos sob patrocínio do governo soviético, até para produções hollywoodianas como "Casamento ou Luxo", de Charles Chaplin, e "A General", de Buster Keaton. Filhos de pai sueco e mãe russa, os irmãos Stenberg foram sempre inseparáveis, tanto no trabalho como no dia-a-dia. Suas vidas se confundiam -chegando ao extremo de se sentarem no mesmo banco da escola durante anos, o que se prolongou até a idade adulta, quando dividiram a mesma prancheta para criar seus maiores trabalhos. Durante a revolução bolchevique, os irmãos Stenberg eram adolescentes e, inspirados por ela, experimentaram diversos modos inovadores de fazer arte. Como acreditava-se que, para que o novo regime pudesse ter sucesso, a arte deveria integrar-se no cotidiano das pessoas e servir às necessidades do proletariado, os representantes da "avant-garde" russa, entre eles os Stenberg, rejeitaram a estética "antiga". O valor da arte deveria ser ligado a sua utilidade para a comunidade. Assim, os Stenberg estudaram engenharia militar e se especializaram na construção de pontes e ferrovias, o que lhes deu uma visão mais pragmática da arte e da necessidade de torná-la "útil". Essa característica pode ser vista com extrema clareza na série de esculturas tridimensionais intitulada "Construções para Estruturas Espaciais", produzidas no início da carreira dos irmãos. Essas peças não estão na exposição. Apenas uma delas, "Estrutura no Espaço KpS6", poderá ser vista, pois faz parte do acervo do MoMA. Durante este mesmo período começaram a criar figurinos, cenários e também pôsteres para diversos pequenos teatros. Com a ascensão do teatro soviético no início dos anos 20, o Estado logo percebeu a arma de propaganda que possuía em mãos, e os dois irmãos passaram a receber encomendas para as produções do Moscow Chamber Theater, o mais importante teatro russo da época. Em peças como "Santa Joana", de George Bernard Shaw, "A Ópera dos Três Vinténs", de Bertolt Brecht, e "Desire Under The Elms", de Eugene O'Neill, aplicaram a sua nova estética, que subordinava os atores ao figurino, ao cenário, à música e ao texto. Dessa foram criavam a sensação de igualdade e uniformidade tão importante para o novo regime. Nessa mesma época, o design gráfico passou por uma grande revolução na Europa ligada diretamente à experimentação introduzida pelos dadaístas nas artes e adotada posteriormente pelos alemães associados ao Bauhaus e pelos construtivistas russos. Esse novo modo de fazer arte, misturando fotografia, texto e colagens, separou definitivamente o design da sua ligação prévia com o realismo, o que atraiu, e muito, os artistas russos ligados à arte "útil". Com isso, a propaganda se tornou uma arte "superior", de grande importância para o novo regime, o que trouxe novas idéias e técnicas para esse campo. A primeira mudança introduzida pelos Stenberg foi no modo de fazer o pôster de um filme. Até então, o mais comum era criar uma ilustração a partir de uma cena dramática do filme, muitas vezes com a estrela principal (método utilizado até hoje). Os irmãos Stenberg criavam sobre a atmosfera do filme, ou a sua idéia mais geral. Em 1923, os irmãos passam a assinar "2 Stenberg 2", de modo a mostrar seus trabalhos como consequência de atividade conjunta. Assim fizeram enquanto durou a parceria. Levaram às últimas consequências a igualdade idealizada pelo novo regime bolchevique. Ironicamente, apesar de terem criado muitas propagandas para o regime bolchevique, nunca se tornaram membros do partido. Texto Anterior: Escândalo dos frangos e ordem no galinheiro Próximo Texto: Welles/Macbeth e Olivier/Hamlet se confrontam Índice |
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