São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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DESARMAR SÃO PAULO

De tempos em tempos, a opinião pública parece acordar de seu estado de inércia e angústia conformada em relação à criminalidade urbana. Desta vez, foram os estudantes de São Paulo que se mobilizaram para uma ação positiva. Ao lançarem uma campanha pelo desarmamento, buscam oferecer uma proposta concreta de combate à violência, que há muito tempo se faz necessária.
O Brasil é o líder de casos de mortes por armas de fogo entre 46 países pesquisados no início deste ano pela ONU (Organização das Nações Unidas). Segundo levantamento feito pela Prefeitura de São Paulo, o assassinato é a principal causa de morte de adolescentes do sexo masculino.
Um importante passo já havia sido dado com a lei que criminalizou o porte ilegal de armas, antes considerado uma contravenção. Espera-se agora o apoio da opinião pública.
As armas, na esmagadora maioria dos casos, revelam-se inúteis, quando não perigosas, nas mãos ineptas de leigos em busca proteção. É comum acabarem em poder de assaltantes. Não são poucos os casos em que pessoas armadas disparam pelos motivos mais banais.
É hora de avançar em relação às iniciativas de autoproteção e de revolta contra a insegurança para uma ação mais coletiva. Ainda que premente, o desarmamento só não basta.
Urge uma política nacional de segurança. As leis precisam ser modernizadas; o Judiciário, dotado de meios que o tornem mais ágil; o sistema penitenciário, aprimorado. A polícia necessita de mais recursos e treinamento adequado. Mas reivindicar segurança e justiça vai além da exigência de prevenção e punição ao crime. Com milhares de crianças nas ruas em condições miseráveis, o país continuará a alimentar o crime.
Sem a cobrança de avanços e a obtenção de melhorias nas áreas sociais, a campanha pelo desarmamento poderá se limitar a resultados tímidos e efêmeros, a exemplo do que ocorreu com iniciativas similares, como o "Reage São Paulo".

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