São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Papa queria que cidade fosse capital da grandeza européia

DAVID LASKIN
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Planejamento urbano é um termo mundano demais para definir o grande projeto que Fabio Chigi fez em Roma durante os 12 anos em que foi o papa Alexandre 7º.
Homem de inteligência, vaidade, ambição e irresponsabilidade fiscal, o papa imaginou Roma como um teatro de pedra, onde grandes europeus se reuniriam para exibir e admirar a própria grandiosidade.
Ele cometeu algumas das mais impressionantes obras públicas da cidade, incluindo a Piazza del Popolo e a praça de São Pedro.
Para conhecer um pouco a visão do papa, pegue um ônibus no centro da cidade até a Via Flaminia e reentre na Piazza del Popolo.
O portal norte, desenhado por Bernini em 1655 para celebrar a chegada da rainha sueca Cristina, não representa muito em si. Mas o projeto que se revela abaixo dele é um triunfo da teatralidade urbana.
Alexandre queria que Cristina entendesse a grandeza de Roma a partir do momento em que entrasse na praça. O papa reconfigurou a área com um tipo de abertura em funil a partir da porta del Popolo até as três avenidas na outra ponta.
Mais tarde, o papa ancorou o desenho com as igrejas de Santa Maria di Monte Santo e Santa Maria dei Miracoli.
Embora o traço de Alexandre para a Piazza del Popolo esteja oculto por uma reforma do século 18, as composições do portal, obelisco, fonte e igrejas continuam intatas.
Alexandre 7º enfrentou um problema de design diferente nas pequenas e elegantes igreja e Piazza Santa Maria della Pace.
Espremida no final de uma rua estreita da Piazza Navona, a igreja esteve na moda no século 17. Era uma das poucas em Roma que abrigava missas à tarde.
O problema era a localização: a aproximação era acidentada, e os cocheiros mal podiam fazer a volta. E chegar à igreja em outra coisa que não uma carruagem era impensável para os fiéis do século 17.
Cortona, nomeado por Alexandre 7º para resolver a situação, apareceu com um plano corajoso e genial: alargar e embelezar a praça, derrubar um quarteirão de casas e mascarar as remanescentes com fachadas imitando palácios.
Deterioração
Infelizmente, Santa Maria della Pace tem deteriorado ultimamente e está fechada para restauração. O consolo é que o claustro de Bramante -clássica e austera construção de 1504- está aberto.
A partir de Santa Maria della Pace, uma curta e agradável caminhada pela extensão da Piazza Navona leva a outro importante projeto de Alexandre 7º.
Trata-se da igreja de Sant'Andrea della Valle, imortalizada como cenário do primeiro ato da ópera "Tosca", de Puccini.
O piso inferior é creditado a Carlos Maderno. Alexandre 7º trouxe Carlo Rainaldi e Carlo Fontana para completar o trabalho. Maderno também desenhou o duomo, o segundo maior de Roma, atrás apenas do de São Pedro.
Se você se prostrar no extremo da praça -que o papa queria expandir e conectar a um bulevar- e voltar a cabeça, verá um anjo.
Um segundo anjo seria colocado para completar a simetria, mas, depois que Alexandre criticou o primeiro, o escultor Cosimo Fancelli desistiu da empreitada. "Se quiser outro, ele que faça."
O papa teve uma relação trabalhista muito mais amigável com Gian Lorenzo Bernini.
Sob Alexandre, Bernini realizou um dos maiores feitos de sua carreira: a curva fileira de colunas que abraçam a praça de São Pedro.
Alexandre e Bernini continuaram sua colaboração em São Pedro na Cathedra Petri.
A tumba que Bernini projetou para Alexandre está há alguns passos, na alcova do lado de fora da asa esquerda do prédio.
A julgar pela estátua do papa que preside o monumento, Alexandre era um homem pequeno, com linhas faciais delicadas, uma estreita barbicha e um ar de esperteza.
No sempre giratório caleidoscópio de Roma, a simbologia de Alexandre ocorre com frequência, um lembrete do legado duradouro do homem que se autodenominava o "amplificador" da cidade.

Tradução de Edson Franco

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