São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 1997
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Congresso da CUT deixa de cumprir pauta

SÉRGIO LÍRIO

da Reportagem Local Os debates políticos foram esquecidos no 6º congresso nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que terminou domingo, em São Paulo.
Os 2.140 delegados sindicais de todo o país saíram do evento sem conseguir discutir alguns dos temas mais importantes que estavam na pauta, entre eles a reforma da estrutura sindical e as políticas permanentes da CUT.
É no congresso nacional que a central define as diretrizes de sua atuação para os três anos seguintes, tempo que dura o mandato da nova direção executiva.
A crise interna na central, que quase terminou em racha, e o excesso de atividades paralelas -painéis, por exemplo- impediram que a pauta fosse completamente debatida.
Além da reeleição de Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, para a presidência, os delegados só conseguiram votar o balanço da última gestão e as estratégias políticas.
Para Jorge Luis Martins, que disputou as eleições com Vicentinho, foi uma derrota para a CUT não ter concluído todas as discussões.
Segundo ele, alguns temas estão na ordem do dia, como a reestruturação sindical, e a CUT não poderia ter saído do congresso sem definir suas ações em relação ao assunto.
"É um absurdo fazer um congresso, que custou R$ 1,2 milhão, sem fazer discussão política. A única preocupação foi resolver o problema da Articulação", afirmou Martins.
A Articulação é a corrente política majoritária, a de Vicentinho, e que corria o risco de rachar.
Os bancários de São Paulo ameaçavam fazer oposição a Vicentinho. Um acordo, que garantiu a vice-presidência para o bancário João Vaccari Neto, só foi fechado no domingo pela manhã, poucas horas antes das eleições.
Isso garantiu a reeleição de Vicentinho com 52% dos votos dos delegados.
O presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ricardo Berzoini, também acredita que a falta de discussão trará dificuldades para a central.
"O congresso está revelando uma central preocupada com temas genéricos e distanciada dos problemas de seus sindicatos, o que vai dificultar nossa ação."
Globalização
Mônica Valente, organizadora do congresso, diz que as discussões que não acabaram agora serão levadas para a plenária da CUT, que acontece em agosto do ano que vem.
De acordo com ela, terminar o congresso sem discutir toda a pauta não significa que a CUT ficará sem estratégia de atuação.
"O congresso faz parte de um processo permanente de discussão. Os desafios para os trabalhadores são tão grandes que é difícil discutir tudo em apenas três dias."
Valente afirmou também que o grande número de painéis, com temas sobre Cuba e o movimento negro norte-americano, foi uma forma de os militantes terem acesso a temas novos.
"Com a globalização, é preciso qualificar os trabalhadores para o debate. É necessário entender o que acontece no mundo", disse.
O novo vice-presidente da CUT, João Vaccari Neto, diz que, "no caso da estrutura sindical, a CUT tem uma carta de princípios que defende a autonomia e os direitos sindicais. Então, podemos aplicar essa política, se for necessária".

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