São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
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Poluição: soluções objetivas

WERNER E. ZULAUF

Dia 8 de agosto, terceiro dia de inversão térmica em Santiago do Chile. O rodízio daquele dia impedia a circulação de veículos de finais, 0, 1, 2, 4, 5 e 7 -portanto, 60% dos veículos licenciados, inclusive táxis. Mesmo assim, a cidade estava em estado de emergência. A nuvem cinza-avermelhada de poluentes contrastava negativamente com a bonita e moderna capital chilena.
Prova adicional, a confirmar a constatação de São Paulo, de que rodízio não é solução para o controle da poluição. Rodízio é uma medida que até agrada parte da população por causa do tráfego.
Mas a melhoria das condições ambientais que provoca é irrelevante. São necessárias medidas estruturais específicas, tais como o programa de inspeção anual das emissões de poluentes de veículos em uso, em fase de implantação pela Prefeitura de São Paulo.
Essa é uma medida estrutural que irá controlar cada uma das milhões de fontes de poluição que são os automóveis, ônibus e caminhões. Espera-se reduzir de 30 a 40% a poluição da cidade, por meio desse programa.
O programa pagou o preço do pioneirismo, tendo sido questionado em juízo, o que causou um atraso de dois anos. Nesse período, o programa não foi citado pelo secretário Feldmann, com quem a prefeitura tem um contrato de auditoria e assistência técnica.
Uma carta de rescisão chegou agora, quando as equipes da Cetesb, da Prefeitura e da concessionária trabalhavam para a implantação do sistema já a partir de setembro próximo. A revogação da medida liminar que impedia os trabalhos deu-se em maio recente.
A saída do órgão estadual em nada altera os planos da prefeitura quanto à implantação do programa. Mas permite que se pergunte ao sr. Feldmann por que Sua Excelência insiste no rodízio, sabidamente pouco eficaz, e desiste de um programa que está prestes a produzir os primeiros resultados ambientais efetivos?
Será sua inadequada formação técnica a causa da confusão? Ou serão objetivos políticos menores a se sobrepor aos seus -supõem-se que existam- compromissos com a ecologia?
É inadmissível que um ecologista de carteirinha tente desembarcar de um programa que produzirá frutos já a partir do próximo inverno, alegando que irá desenvolver outro, cujos resultados, na melhor das hipóteses, somente serão palpáveis daqui a dois ou três anos. Há mais do que poluição, aviões e urubus entre o céu e a terra da metrópole paulistana...

Werner Eugenio Zulauf, 60, engenheiro civil e sanitarista, secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente e presidente nacional da Anamma (Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente).

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