São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Concessão à Argentina não agrada diplomacia dos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A decisão de conceder à Argentina o status de "aliado militar íntimo" dos EUA provocou mal-estar no Departamento de Estado, o comando da diplomacia norte-americana, segundo apurou a Folha.
O anúncio formal ainda não foi feito, mas a secretária de Estado, Madeleine Albright, disse na semana passada que seu país "vai reconhecer o papel da Argentina", em especial sua participação em missões de paz patrocinadas pela Organização das Nações Unidas.
Ela fez a declaração depois de ter tentado resolver com José Miguel Insulza, ministro das Relações Exteriores do Chile, um dos problemas criados pela decisão. Insulza foi a Washington para protestar informalmente contra a concessão do status de "aliado íntimo" à Argentina, com quem o Chile tem uma histórica disputa de fronteira.
O Chile estava interessado em comprar aviões F-16 dos EUA. Insulza disse a Albright que agora o país talvez vá modernizar sua Força Aérea com os europeus. O interesse do Chile pelos F-16 foi uma das razões que levaram o presidente Bill Clinton a suspender, este mês, o embargo de venda de armas modernas à América Latina.
O problema com o Chile é considerado grave no Departamento de Estado. O Chile tem sido "a menina dos olhos" dos EUA na América Latina, usado como exemplo de modernidade e eficiência.
O governo Clinton tem se esforçado junto ao Congresso dos EUA para incluir o Chile no Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta). Mas a consequência tida como potencialmente mais séria é em relação ao Brasil.
No Departamento de Estado, teme-se que a Argentina use seu novo status para contestar a reivindicação brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Há indícios de que o presidente Carlos Menem já está fazendo exatamente isso.
Segundo a Folha apurou, foi o secretário da Defesa, William Perry, quem prometeu a Menem a concessão do status. O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general John Shalikaschvil, também participou do "lobby" argentino junto à Casa Branca.
A Lei de Assistência ao Exterior, de 1961, criou o status de "aliado militar íntimo", que o presidente dos EUA pode conferir a países que não fazem parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A Argentina será o primeiro contemplado da América Latina. Israel, Japão, Coréia do Sul, Egito e Jordânia já têm o título.
O status não cria obrigações de defesa dos EUA com seus detentores. Dá prioridade na compra de excedentes de armas e munições dos EUA, mas não na compra de armas novas. Albright disse que é "basicamente uma relação simbólica, aberta a outros países".

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