São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Brasil quer esvaziar projeto de rodízio

FERNANDO GODINHO
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

Para manter suas chances de representar a América Latina no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), o Brasil quer anular a estratégia de sedução que está sendo utilizada pela Argentina na atual reunião do Grupo do Rio, iniciada ontem.
A Argentina defende a rotatividade para uma eventual vaga latino-americana no conselho e já considera a possibilidade de que essa representação também seja exercida por países do Caribe -e não apenas da América Latina.
O Brasil defende que a representação seja permanente e sempre trabalhou com três opções para a vaga: o próprio Brasil, a Argentina e o México.
O Grupo do Rio reúne 14 países da América Latina e está discutindo, entre outros temas, a reforma do Conselho de Segurança, já ocupado por EUA, Rússia, China, França e Reino Unido.
No último final de semana, o presidente da Argentina, Carlos Menem, declarou que uma eventual indicação do Brasil para o conselho representaria um "desequilíbrio" na região.
O Brasil quer confirmar o documento já aprovado há uma semana pelos embaixadores dos países do Grupo do Rio junto à ONU que rejeita qualquer "tratamento discriminatório" entre países desenvolvidos e em desenvolvimento dentro do Conselho de Segurança.
A discussão ainda será submetida aos chanceleres e aos chefes de Estado e de governo. Os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem também terão uma reunião reservada sobre o tema.
Adesão e discriminação
Ontem, a estratégia argentina obteve o apoio do coordenador da equipe paraguaia e coordenador-geral da reunião, embaixador Jose Martinez Lezcano. "Somos a favor da rotatividade porque todos os países aspiram ocupar uma posição melhor do que a que têm atualmente", declarou.
"Os países em desenvolvimento não podem ser líderes eternamente, e os outros não podem ficar no fim da fila para sempre", afirmou o diplomata paraguaio.
O Brasil argumenta que a rotatividade seria discriminatória, pois Alemanha e Japão -que deverão ser integrados ao conselho- não adotarão esse mecanismo com os demais países de seus continentes.
Para os diplomatas brasileiros, a rotatividade cria um "cidadão de segunda categoria" dentro da instância mais importante da ONU e só está sendo defendida por países que não têm chance de postular uma vaga permanente -o Chile também defende a rotatividade.
A discussão sobre os novos membros do Conselho de Segurança da ONU se inicia no próximo mês. A decisão será tomada por todos os 189 países-membros.

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