São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Gerações e estilos de chorinho se reúnem em SP

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Dizia Jacob do Bandolim que o choro tinha três significados. Era, em primeiro lugar, um grupo de instrumentos (flauta, violão, cavaquinho, bandolim, clarinete e oficleide).
Era também um ritual, um ponto geográfico (a roda-de-choro). E, por último, a simples definição musical, a melodia do compasso dois por quatro, a série de variações e glosas de um mesmo tema.
Quem for ao Sesc Pompéia de hoje até domingo pode usar a expressão dos antigos chorões: "Hoje vou a um choro", já que os três ingredientes estarão presentes.
A segunda edição do projeto Chorando Alto aposta na nova geração de músicos do gênero, que vem tratando o estilo de forma acadêmica, partindo de sua estrutura clássica para experimentações e fusões, ora com a música pop, ora com o jazz e outros estilos.
É o caso, por exemplo, do Nó em Pingo D'Água, grupo carioca formado por estudantes de música em 91, que eletrificou alguns instrumentos e introduziu o saxofone nos arranjos.
Também de formação clássica, o quinteto de clarinetistas Sujeito a Guincho se apresenta na mesma noite e homenageia Severino Araújo, da Orquestra Tabajara.
A escolha das atrações se preocupou pouco com a rigorosidade na formação do elenco, abusando da amplitude do termo chorinho para amalgamar várias tendências.
Apesar da presença de medalhões (leia texto abaixo) e de grupos que surgiram em sua maioria do berço do chorinho, o Rio de Janeiro, o melhor do festival deve vir de um grupo de músicos nordestinos, que atendem pelo nome de Chorões do Capibaribe.
Liderados pelo virtuose do cavaquinho, o também compositor Jacaré, eles trazem, no som de uma verdadeira orquestra de cordas (violões de seis e sete cordas, bandolim, cavaquinho e bandola), o resultado de um trabalho baseado em pesquisa folclórica com arranjos modernos.
Apenas uma atração internacional está entre os artistas, é o guitarrista norte-americano Mike Marshall, membro de um grupo de choro nos EUA, o Choro Famoso, com quem compõe e toca.
Velha guarda
Definindo-se como o "único parente vivo de Matusalém", o flautista Altamiro Carrilho é o mais experiente músico de chorinho do Brasil.
Com 50 anos de carreira, ele gravou mais de 80 discos e cuida hoje da divulgação do estilo no exterior. Levou o choro para os EUA, Japão, Ásia e recentemente tocou num festival em Israel.
"Parece um milagre que no ano em que se comemora o centenário de Pixinguinha, tenhamos a oportunidade de ver o chorinho vivo e bem de saúde", disse ele em entrevista à Folha.
História
Nas rádios cariocas dos anos 50, Jacob do Bandolim disputava o mesmo público de cantores populares, como Ângela Maria. O tempo passou, e a bossa nova atropelou o choro, que ficou recluso numa espécie de cenário paralelo.
A atual geração, que desfilará ao lado de alguns nomes consagrados, faz parte de uma terceira geração de chorões. A primeira, que estabeleceu os padrões formais e rígidos do estilo, foi a que transformou a polca e outras danças de salão em chorinho, aproveitando a rítmica da música afro-brasileira.
A segunda, comandada pela Camerata Carioca, regida por Radamés Gnatalli, nos anos 80, flexionou um pouco o estilo e mudou arranjos, facilitando sua interpretação por outros instrumentos.
O choro dos anos 90 é saudoso e reverente a seus ícones, mas encontrou sua sobrevivência na fusão com o pop e com o uso de instrumentos eletrônicos.
Mas a forma permanece a mesma: "As misturas são válidas, mas não vão durar, o formato é rígido e só permite a existência prolongada dentro da estrutura clássica", diz Carrilho.

O que: Chorando Alto
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 011/871-7751)
Quando: de hoje até domingo, quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 15

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