São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997
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Sorte não existe; suamos para conquistar o Pan

VALDIR BARBANTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao chegar a Indianápolis, em 1987, comprei os jornais para saber o que os americanos falavam de nossa equipe. Como sempre, consideravam seu time favorito. Mencionavam Canadá, Porto Rico e até mesmo a equipe da Argentina.
Sobre a seleção brasileira, nada. Nem uma linha. Éramos, com certeza, os azarões.
Após o final da competição, voltei às bancas. E até o prestigioso "New York Times" trazia em sua primeira página a foto de nosso time, a seleção brasileira de basquete, campeã dos Jogos Pan-Americanos.
Tínhamos entrado para a história. Não só do esporte brasileiro, mas do norte-americano e, sem exagero, do mundial. Nunca uma equipe de basquete dos EUA havia sido derrotada em casa. E de forma tão contundente.
Eu e o técnico Ary Vidal passamos horas, após a partida, cercado por jornalistas que, abismados, procuravam explicações para tamanho feito.
Existe uma única, que nada tem a ver com sorte, mística ou qualquer coisa do gênero.
A seleção que foi ao Pan de 87 e conquistou a medalha de ouro foi o time mais bem preparado da história do basquete brasileiro.
Nunca tivemos tantos dias para treinar uma equipe. E nunca tivemos tanto espírito de luta concentrado num único grupo de jogadores.
Oscar, Marcel, Guerrinha lideravam um time muito bem preparado, capaz de estabelecer placares de jogo inteiro apenas num segundo tempo.
Contra o México, 73 pontos. No Uruguai, 78. Na final, contra os EUA e 15 mil torcedores que não se cansavam de berrar "USA, USA", foram 66 pontos.
Bem preparado, nosso time rendia muito bem no segundo tempo, enquanto os adversários declinavam. O efeito psicológico sobre eles era devastador, como comprovou o próprio time dos EUA.
Durante o torneio, fomos taxados de malucos por treinarmos logo após as partidas, na Vila Olímpica.
Na verdade, essa prática era direcionado aos jogadores que pouco atuavam ou mesmo que não haviam entrado em quadra. Dessa forma, mantínhamos todo o grupo condicionado, evitando a queda de desempenho provocada pelas substituições.
Esse condicionamento e a valorização dos arremessos de três pontos, outra característica inovadora imposta por nossa equipe, revolucionaram o basquete.
Até mesmo os norte-americanos caminharam para essa direção, temerosos por sua hegemonia, seriamente atingida após aquela final.
Basta constatar, hoje em dia, como os EUA valorizam a condição física dos jogadores, e como cresceu no país o número de especialistas em arremessos de longa distância.
Essa revolução física e tática é que fez do Brasil campeão em 87. Não, nem um de nós quebrou a rotina, mudou de camisa ou acordou com o pé esquerdo após um sonho diferente.
Nada de diferente aconteceu. A única coisa é que estávamos seguros de nossa capacidade. E, no intervalo, mesmo perdendo por 15 pontos, tínhamos certeza: "Vamos virar".
Viramos.

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