São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997 |
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Noites viraram horas de medo
BERNARDO AJZENBERG
Certa vez, já recolhido sob o cobertor da cama, a vermelhidão adentrou o escuro do meu quarto pelas frestas da persiana, e eu não tive dúvidas: Bandido rondava a nossa casa, buscando o local mais adequado por onde invadi-la. À espera do pior, quase sem piscar os olhos, agarrei firme o lençol, pois gritar ou levantar em busca de socorro pareceu impossível: o desgraçado me agarraria pelas costas. Durou horas, o pânico; só terminou bem depois de a própria vermelhidão ter desaparecido. Essa convicção de um cerco fatal e o pavor decorrente dela voltaram a acontecer mais três ou quatro vezes nas semanas seguintes. O Luz não desistia de me importunar. Rádio e TV só falavam nele. Naquele período as noites viraram sinônimo de medo. Levei meses para entender que, sendo estreita a nossa rua, perto do largo de Pinheiros, a lanterna que me terrificara haviam sido, não a de João Acácio, tão temida, mas sim os faróis traseiros do Aero-Willys do vizinho da frente quando chegava tarde da noite e estacionava em sua garagem. Ironia da infância: àquela altura -sei hoje-, o responsável pelos meus horrores noturnos já estava, e fazia um bom tempo, dormindo na cadeia. Texto Anterior: Irmão só o aceita em casa se ele trabalhar Próximo Texto: Crimes mudaram pouco com o tempo Índice |
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