São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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Show de Sávio e elegantes de um especialista

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, Valência esperava ontem um novo espetáculo de Romário e quem deu show foi a dupla Lúcio e Sávio, este com três gols.
Agora, será difícil o Mengo segurar Sávio, que mostrou que está maduro para brincar em outros campos do Senhor.
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Poucos conhecem a história do futebol como o jornalista João Máximo, autor do livro sobre João Saldanha para a coleção "Perfis do Rio", da editora Relume Dumará.
Também um cultivador do estilo no jogo da bola, como se verá pela sua estudada e caprichada convocação da seleção dos mais elegantes:
Gilmar, claro, o Santos Neves. Um dos maiores exemplos de que elegância não tem nada a ver com craqueza. Não foi um grande goleiro, mas com que classe, com que "aplomb"deixava um frango passar-lhe entre os dedos!
Carlos Alberto, claro, o Torres. Porte, equilíbrio, estilo.
Mauro, claro, o Ramos Rafael. Dava gosto vê-lo fazer da grande área uma passarela para sua exibição de garbo.
Beckenbauer, claro, o kaiser Franz. Fui o primeiro jornalista brasileiro a entrevistá-lo, lá se vão 31 anos. Não sei de nenhum outro fora de série que jogasse tão bem e tão bonito. Era no futebol o que Burt Bacharach era na música: craque em seu ofício com cara de "movie star".
Schnelliger, claro, o Karl-Hans. Outro alemão, louríssimo, elegantíssimo. Nunca deu carrinho, jamais levou tombo. Saía de campo com o uniforme imaculado, embora tivesse jogado barbaridade.
Bauer, claro, o José Carlos. Não fosse Danilo Alvim tão magro e tão feio de cara, eu escalaria os dois num meio-campo talhado para desfilar nesse time. Futebol por futebol, Danilo era gênio e Bauer algo bem próximo disso. Elegância por elegância, entrego a camisa ao mulato de olhos claros que jogava como quem dança em "slow motion".
Didi, claro, o comendador Waldir Pereira. Nélson Rodrigues comparou-o a um príncipe etíope de rancho carnavalesco. Dizem que um dia, ao vê-lo passear por uma calçada de Campos, sua cidade natal, alguém vaticinou: "Pelo jeito de andar, esse crioulo ainda vai ser alguma coisa na vida".
Falcão, claro, o Paulo Roberto. Com aquele futebol, com aquela estampa, aquele "donaire" dentro e fora de campo, tinha mesmo de virar rei de Roma e grife internacional.
Julinho, claro, o Botelho. Correndo com a bola nos pés, executando suas fintas curtas, dando nó em tripa de marcador, supliciando goleiros e, acima de tudo, jogando por nosso time, com tanta alma, tanto coração, Julinho era um Brumel.
Heleno, claro, o de Freitas. Quem não o viu cabeceando, matando bola no peito, chutando com qualquer dos pés, sabe pouco de elegância. Vestia tudo isso com um uniforme sob medida.
Pelé, claro, o ministro.
Completa João, claro, o Máximo: só escalei jogador que tive o privilégio de ver com os próprios olhos, razão pela qual não estão nela a maravilha negra Fausto dos Santos, o divino mestre Domingos da Guia, o fitinha roxa Marcos Carneiro de Mendonça, entre outros.

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