São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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Body Count lança disco mais agressivo

SÉRGIO MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto o companheiro Ice-T se encontra ocupado demais para dar entrevistas -ele distribui tiros e sopapos numa série policial pra a rede de TV NBC-, o guitarrista Ernie-C se encarrega de contar as novidades do Body Count.
A primeira delas é que o grupo, fundado por Ernie-C e Ice-T no final dos anos 80, está de disco novo: "Violent Desmise: The Last Days" traz a habitual grossura sonora e lírica do Body Count, tocando cada vez mais alto e agressivo e xingando mulheres, o ex-campeão de futebol americano OJ Simpson, além de outros personagens de Los Angeles.
O disco traz a última participação do baterista Beatmaster no Body Count. Ele morreu logo depois das gravações.
Ernie-C ainda tem planos de criar um selo independente em parceria com Duff McKagan, baixista do Guns N'Roses, pelo qual planeja lançar seu disco solo. Abaixo, os melhores momentos da entrevista que o guitarrista deu à Folha, em Los Angeles.
*
Folha - O Body County é um dos grupos que mais usa das palavra "bitch" (prostituta) de toda a história do heavy metal. Você não acha que algumas letras de Ice-T são pesadas demais?
Ernie-C - Você tem de ver pelo lado engraçado das coisas. Não fazemos nada diferente de um R. Kelly ou qualquer cantor de R&B americano. Somos apenas um pouco mais diretos.
Por exemplo: enquanto esses caras dizem: "Baby, eu quero te lamber" ou qualquer coisa assim, chamamos a garota para o sexo.
Folha - A música "I Used To Love Her" fala de um relacionamento fracassado. Um homem que se sente traído pela mulher. Ela é dedicada a alguém em especial?
Ernie-C - Sim, nós a escrevemos para OJ Simpson. Queríamos retratar a aflição dele ter sido deixado de lado.
Folha - Você é um daqueles que acreditam que OJ é inocente?
Ernie-C - Claro que OJ é culpado! As provas eram bem claras. A diferença é que ele tinha muito dinheiro e pagou por sua liberdade.
Folha - O disco tem agradecimentos especiais a Duff McKagan, do Guns N'Roses. Qual a função dele em "Violent Desmise"?
Ernie-C - Na verdade, Duff é mais um camarada da gente. Eu o conheci há alguns anos, quando excursionamos com o Guns.
Nós dois temos projeto de criar um selo independente. Deve se chamar Hollow Point e o primeiro lançamento será meu disco solo. Folha - Ao contrário dos outros dois discos do Body Count, "Violent Desmise" não foi produzido por você. Cansou de trabalhar como produtor?
Ernie-C - Em "Violent Desmise" me preocupei apenas em tocar, deixando os pepinos para o produtor. Mas isso não quer dizer que eu nunca mais vou produzir discos.
Folha - E como foi produzir o Black Sabbath?
Ernie-C - Foi ótimo, nos divertimos muito. Eu nunca escondi que Tony Iommi influenciou meu jeito de tocar guitarra. Acho "Forbidden" um disco interessante, o melhor que o Black Sabbath fez em muitos anos.
Folha - Vocês perderam o baterista Beatmaster logo depois das gravações do álbum. Como foi lidar com isso?
Ernie-C - Beastmaster não era apenas o baterista do Body Count, era amigo do pessoal. Ele tinha leucemia, mas escondeu a doença de todo mundo. Beatmaster gravou todas as suas partes de bateria sem reclamar de nada. E morreu dias depois de terminar seu trabalho. Ainda estamos abalados.
Folha - Ao lado dos pioneiros Bad Brains (quarteto hardcore de Washington) e do Living Colour, vocês são uma das poucas bandas de rock pesado formada por negros. Enfrentam algum tipo de preconceito por causa disso?
Ernie-C - É engraçado. O preconceito vem mais da platéia negra. Eles estão contaminados demais pelo rap que não aceitam negros fazendo outro tipo de música.
Os garotos brancos gostam mais da gente.
Folha - Vocês estiveram no Brasil ano passado. Pensam em voltar?
Ernie-C - Sim, estamos loucos para tocar no Brasil novamente.

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