São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Leia três histórias de 'automutiladores'

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir três histórias de pessoas (os nomes são fictícios) que se automutilam narradas pelo psiquiatra Álvaro Ancona de Faria, com quem fazem psicoterapia.

Caso 1 - Márcia, 28, deixou o emprego de atendente em um hospital porque não consegue mais trabalhar. Viciada em psicotrópicos, ela mantinha o hábito roubando remédios no hospital. Desempregada e morando com uma amiga, sua vida está totalmente desestruturada. Não consegue manter relacionamentos com namorados ou amigos. Toda vez que fica nervosa ou deprimida, ela se corta com gilete nos braços ou cheira cocaína. Só assim se sente aliviada. Márcia se sente culpada pela série de agressões que sofreu. Dos 14 aos 16 anos, sofreu abuso sexual pelo padrasto. Aos 16, fugiu de casa e começou a se prostituir. Parou quatro meses depois. Hoje, tenta se recuperar fazendo terapia.

Caso 2 - A estudante Cláudia, 20, já tentou suicídio cinco vezes. Todas após brigas com namorados e sem intenção real de morrer. A instabilidade nos relacionamentos -causada, segundo o médico, pela influência dos problemas conjugais dos pais- faz ainda com que Cláudia se corte com gilete nos braços. Ela também já teve anorexia. Parou de comer porque começou a achar que estava gorda e ia perder o namorado. Ela faz terapia e toma antidepressivos. Está desesperada para encontrar o "amor de sua vida" e, quando não dá certo, a única coisa que a alivia é a gilete.

Caso 3 - Marcelo, 17, é homossexual e também foi vítima de abuso sexual na infância. Já foi preso várias vezes quando tentava roubar para comprar drogas. Ele diz que, às vezes, fica "tão deprimido e sentindo um vazio tão grande" que a única maneira de "aliviar" é se cortando com uma faca. Além das drogas e da automutilação, o comportamento autodestrutivo de Marcelo inclui ainda transar sem camisinha. "Se pegar Aids, passo para todo mundo", disse ao médico. Segundo Faria, o garoto acredita que é uma "pessoa má e que por isso tem de se punir". (LM)

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