São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Denúncia põe em xeque método de Giuliani

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, um "conservador moderno", ganhou muitos fãs, inclusive entre brasileiros, por ter conseguido grudar à sua imagem o mérito pelo declínio nas taxas de crime na cidade que dirige.
Por isso, o incidente como o do haitiano Abner Louima, que diz ter sido torturado de maneira bárbara num distrito policial do bairro do Brooklyn, é tão grave para o candidato à reeleição em novembro: o caso faz aumentar as dúvidas sobre por que vem caindo o índice de criminalidade na cidade.
Giuliani diz que há menos crimes devido aos dois pilares de sua política policial: "tolerância zero" (que combate contravenções, como urinar na rua ou quebrar vidraças, com o mesmo rigor aplicado a assaltos ou homicídios) e "polícia comunitária" (guardas circulam pelas ruas para verificar se delitos são praticados, em vez de só atender a chamados).
Nunca tanta gente foi presa em Nova York como nos últimos três anos e meio, desde que Giuliani assumiu, e nunca foram registrados quedas tão significativas no número de crimes na cidade. A conclusão parece lógica: foi o prefeito republicano com suas táticas de policiamento que obteve esses resultados. Mas, como diz Richard Moran, professor do Mount Holyoke College, em Nova York, é possível que Giuliani tenha dançado a dança da chuva e, como choveu, atribuído a si os méritos, mesmo sem ter tido nada a ver com a água.
Em primeiro lugar, é importante notar que em todo o país os índices de criminalidade decaíram nos últimos quatro anos. No mesmo período, a economia nacional prosperou, com desemprego em queda, inflação sob controle, aumento de salários e de consumo. Centenas de milhares de jovens que estavam nas ruas sem ocupação em 1993 agora estão no trabalho.
É verdade que o decréscimo da criminalidade em Nova York no período foi um pouco maior do que a média nacional e, em especial, das grandes cidades. Mas é igualmente verdade que Nova York se beneficiou mais, com a melhoria mais acentuada das condições de economia na região.
Em segundo lugar, a política de "tolerância zero" pode ter criado ao longo do tempo um agravamento da tensão social nos bairros de maior criminalidade de Nova York que, cedo ou tarde, pode acabar explodindo em incidentes como o do imigrante haitiano.
A prepotência de uma força policial constituída por 76% de brancos numa cidade em que a maioria absoluta dos criminosos ou suspeitos é de negros e hispânicos numa sociedade tomada por preconceitos raciais pode ser muito inflamatória. Louima talvez seja o Rodney King de Nova York.
A "polícia comunitária" também pode acirrar ódios. Muito conhecidos da população, os policiais ficam tentados a se valer da autoridade em "vendetas" pessoais como pode ter ocorrido (por engano) no caso de Louima (que um dos torturadores talvez tenha confundido com alguém que se desentendera com ele em boate).

Texto Anterior: França prevê altos lucros com safra de vinho de 1997
Próximo Texto: Aliados do prefeito controlam a polícia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.