São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tema é mais tabu do que sexo

DA REPORTAGEM LOCAL

Falar sobre a crise conjugal dos pais parece ser mais difícil do que abordar tabus sexuais, como virgindade, por exemplo. Só três entrevistados toparam dar nomes verdadeiros, os outros nomes desta reportagem são fictícios.
Isso porque, na maioria das vezes, os filhos, que acabam sendo envolvidos pelos pais no problema, têm medo de se posicionar publicamente e acabar magoando a mãe ou o pai. Nem todas as separações são tranquilas, e muitas vezes os filhos são induzidos a enxergar a crise sob a ótica de um dos pais.
Esse parece ser o caso de Marisa, 14. Seus pais se separaram em janeiro. Ele estaria traindo a mulher. Como ficou morando com a mãe, vê o problema apenas sob o ponto de vista dela.
"Disse para meu pai que só iria continuar vendo-o se ele largasse a outra", diz Marisa. Segundo o pai, conta a garota, esse relacionamento já terminou, mas a mãe insiste que não.
Marisa diz que tem muita raiva do pai e se sente traída por ele. Ela está há dois meses sem vê-lo, apesar de ele procurá-la com insistência.
Fabiano, 14, e seu irmão, Carlos, 14, também ficaram do lado da mãe. Eles já desconfiavam que o pai estava traindo a mulher, mas ficaram na deles. E os pais também não falaram nada.
A confirmação para os irmãos aconteceu após uma discussão durante um jantar. Mas, apesar do clima de guerra, os pais não mudaram a vida.
"Eles quase não se falavam e eram muito grosseiros um com o outro. Percebemos que a separação seria melhor do que ter aquele clima de brigas em casa", lembra Fabiano.
Eles achavam que o errado era o pai, o que o próprio acabou reconhecendo. "Por isso, falamos para ele que seria melhor se ele saísse de casa. Na hora, meu pai não disse nada, ficou quieto. Mas, depois de alguns dias, ele saiu de casa."
Fabiano diz que sente muito a falta do pai em casa, de não ter mais a vida familiar de antes. "Mas não tenho raiva e acho que assim foi melhor".
Outras pessoas, como Monica Purcino, 17, dizem que a forma como a separação foi comunicada ajudou a aceitar melhor a realidade. "A mamãe sempre foi muito clara, nunca escondeu o que acontecia. No começo, é difícil aceitar, mas, com o tempo, tudo melhora. Você ganha uma nova vida, sem tensão em casa", diz Monica.

Texto Anterior: "Resolvi cuidar mais de mim"
Próximo Texto: Filho assume lugar da mãe
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.