São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 1997
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Filho assume lugar da mãe

"No dia 4 de março de 96, cheguei em casa da escola, e minha mãe não estava. Um tio me informou que ela havia saído de casa. Meu irmão tinha 15 anos, e minha irmãzinha, 5.
Comecei a ajudar em casa e virei babá 24 horas. Passei a ir mal no cursinho, não tinha tempo de estudar. Tirei carteira de motorista e ganhei um carro. Virei dona-de-casa e 'irmãotorista'.
Fiquei muito preocupado em ajudar meus irmãos e no final do ano não passei no vestibular. Às vezes, meu pai não entende que para mim é muito complicado cuidar da casa e dos meninos. Tenho de ajudar minha irmã com a lição de casa, a se vestir... É muito desgastante.
Não entendo como minha mãe teve coragem de deixar os filhos, principalmente minha irmãzinha, que ainda precisa dela.
No começo, tinha muita raiva da minha mãe, mas percebi que não vale a pena ficar assim. Ela é minha mãe, dou duras nela, mas, quando ela aparece na minha frente, desmonto. Você acaba se acostumando a não ter essa pessoa ao seu lado.
Tenho de pensar mais em mim. No ano passado, foi minha pior fase. Deixei de ser o cara extrovertido que sempre fui. Um professor chegou a falar comigo e me deu uns toques. Foi difícil e ainda continua muito difícil.
Outro problema que a separação me trouxe é que não consigo ficar num relacionamento amoroso muito tempo, fiquei com medo de me apaixonar.
Já me senti traído pela minha mãe. Agora, acho que tudo está sendo bom em vários sentidos: para o meu pai perceber o quanto ele é dependente dela, para mim, que estou conseguindo me superar, e para minha mãe perceber que a família é muito importante."
Julio Cesar Torquato dos Santos, 19

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