São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 1997
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Museu suíço expõe o lado verdadeiro das falsificações

MARTA AVANCINI
DE PARIS

Uma obra de arte falsa pode ser verdadeira. Essa é uma das idéias defendidas pelos curadores da exposição "A Arte de Imitar - Falsificações, Manipulações, Pastiches", organizada pelo Museu de Arte e História de Genebra (Suíça).
"Uma falsificação traz uma quantidade enorme de informações sobre o gosto e a visão que um período histórico tem sobre outro. Nesse sentido, ela traduz a verdade do tempo em que foi produzida e tem um valor próprio", disse à Folha Claude Ritschard, professora de história da arte e uma das curadoras da mostra.
Ao todo, a exposição reúne cerca de 50 obras falsas ou imitações, entre pinturas, tapeçarias, moedas e outros objetos.
São peças inspiradas na arte do Renascimento (séculos 14 a 16) e datadas do século 19. Elas integram o acervo do museu e de outras instituições suíças e foram, em sua maioria, doadas por colecionadores.
As falsificações foram descobertas após estudos realizados por alunos de história da arte da Universidade de Genebra, coordenados por Claude e Mauro Natale.
Origem
Segundo Claude, a "indústria das falsificações" teve uma dupla motivação: o fortalecimento do mercado de arte e a resistência às novas correntes artísticas, ambos no século 19.
No primeiro caso, o surgimento de uma demanda por parte de colecionadores abriu espaço para o trabalho de falsificadores. No segundo, trata-se da produção de artistas e aprendizes que acreditavam nos valores tradicionais e se recusavam a acatar os padrões de criação artística propostos por movimentos como o impressionismo, que busca apreender um objeto a partir da impressão visual provocada por ele.
"Existem as falsificações deliberadas, mas muitas pinturas foram feitas por alunos de escolas de belas-artes do norte da Itália. Eles as produziam para aprender e, dessa maneira, manter a tradição dos padrões de composição e uso das cores que acreditavam ser a verdadeira arte."
Assim, as obras falsas não eram necessariamente produzidas com o objetivo de enganar um colecionador. "O problema é que elas caíam nas mãos de marchands, que as vendiam como verdadeiras e antigas", explica Claude.
Idealização
As falsificações e imitações propõem uma visão idealizada da arte renascentista, construída a partir de padrões considerados típicos.
Em geral, estes padrões podiam até ser extraídos de quadros pintores relativamente conhecidos e se transformavam em modelos de paisagens, figuras humanas, por exemplo, que eram reproduzidos nas falsificações.
Dessa forma, um quadro falso pode conter elementos extraídos de diversas pinturas. É o caso de "Retrato de Mulher", produzido de acordo com os padrões usados em Florença (Itália) durante o século 15.
A mulher retratada combina elementos típicos de Piero della Francesca e Piero del Pollaiuolo.
Segundo Brigitte Roux, que analisou a obra, o nariz e os olhos teriam sido extraídos do "Retrato de Battista Sforza", de Piero della Francesca. O queixo e o colar teriam sido copiados de um retrato de mulher feito pelo segundo, pertencente ao Museu Poldi Pezzoli de Milão.
Já a "Virgem com o Menino", havia sido atribuída a Coppo di Marcovaldo, artista que viveu em Florença, Pistoia e Siena entre 1260 e 1276. O quadro é uma cópia de um retábulo pintado por Marcovaldo em 1261 e que está na catedral de Siena. A diferença em relação ao original reside em dois anjos, que não foram reproduzidos na obra do falsificador.
A exposição fica aberta até o dia 28 de setembro, mas, segundo seus organizadores, pode ser prorrogada até o final de novembro.

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