São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 1997 |
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Somos todos um pouco filhos de Durst
AMIR LABAKI
Durst viveu o auge da era do rádio paulistano, foi um dos pioneiros da televisão, participou da tentativa do estabelecimento de um cinema industrial na São Paulo dos anos 50 e revolucionou mais de uma vez a ficção televisiva. O cinema foi sua grande paixão, mas não foi nele que deixou sua principal marca. Durst dirigiu apenas duas adaptações ("O Sobrado" e "O Gaúcho"), emplacou um roteiro para Mazzaroppi ("A Carrocinha"), mas morreu sem concretizar o sonho de rodar "Um Certo Capitão Galdino Ribeiro", em que conta a história da Vera Cruz a partir da triste saga do ator Milton Ribeiro, consagrado em "O Cangaceiro". Durst foi destes artistas fundamentais na era da cultura de massas, o indispensável mediador entre a alta e a baixa cultura, sabendo conciliar uma à outra. Foi o Grande Adaptador, seja na contribuição a dois marcos do teleteatro (TV de Vanguarda, Teatro Cacilda Becker), seja na sofisticação da dramaturgia especificamente televisiva. Telenovela "Gabriela" (1975) talvez seja o ápice da telenovela brasileira, e muito desse triunfo deve-se à extraordinária recriação por Durst do complexo romance de Jorge Amado. Missão cumprida no campo das novelas, ei-lo fundando as bases da minissérie brasileira com "Anarquistas, Graças a Deus" (1984) e, proeza das proezas, a única versão de "Grande Sertão: Veredas" (1985) que não faria Guimarães Rosa corar de raiva. O reconhecimento à obra de Durst por certo crescerá. O preconceito frente à televisão lentamente começa a ser rompido. A importância do roteirista nas ficções audiovisuais finalmente também parece se firmar por aqui. Espectadores ou artistas, neste Brasil em tempo de TV, somos todos um pouco filhos de Durst. Texto Anterior: Autor adaptou "Gabriela Cravo e Canela" Próximo Texto: 'Assista TV!', diz campanha promocional nos EUA Índice |
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