São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 1997
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Autenticidade não era 'problema'

MARTA AVANCINI
DE PARIS

A autenticidade e a originalidade de uma obra nem sempre foram um problema ao longo da história da arte.
"Muitas esculturas romanas eram cópias de originais gregos, e isso não as tornava obras menores", disse a historiadora Claude Ritschard.
"A idéia de autor é relativamente nova. Ela surgiu com uma visão mercadológica da arte, que passou a prevalecer a partir do século passado. Hoje em dia, tem muita gente que diz gostar de um Van Gogh, por exemplo, por ser um Van Gogh, não porque realmente aprecia a pintura, as cores, a composição."
Ela considera que a autoria se tornou um valor simbólico, algo a ser preservado em um mundo em que prevalecem as obras produzidas por técnicas e em escala industrial.
Assim, ser reconhecido como apreciador ou proprietário da obra de um determinado autor se tornou tão ou mais importante que a obra propriamente dita.
No caso da Roma antiga, afirma Claude, o espírito era o oposto do que vigora no século 20.
As pessoas se interessavam por um objeto artístico pelo que ele significava. Pouco importava se ele era único ou não. Também não interessava tanto quem era seu autor.
Imitação e repetição
A arte sacra é outro campo em que o valor e o sentido da imagem superam em importância a originalidade da obra.
Ela tem por objetivo produzir imagens ou objetos adequados a uma sentido mágico que lhe atribuímos. Para obter este sentido, o respeito de um padrão pré-determinado é importante, afirma Claude Ritschard em texto publicado no catálogo da exposição.
Outro caso lembrado pela curadora da mostra é o da própria arte renascentista.
Geralmente, os quadros eram produzidos em conjunto, segundo os padrões de um mestre.
"Os aprendizes eram considerados bons artistas quando conseguiam imitar com perfeição o mestre. Obras que se tornaram importantes e referências dentro da história da arte são, na verdade, produtos de ateliês, foram feitas por um grupo de artistas e não por um único."
Artesanato
Para Mauro Natale, a falsificação é uma forma de expressão do artesanato e da tradição.
Ele considera, em texto também publicado no catálogo da exposição, que os falsificadores italianos do século 19 formavam um grupo de trabalhadores que perpetuava modos de produção da obra de arte e valores do passado.
(MA)

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