São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Mulher enfrenta falta de credibilidade

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Acabar com a falta de credibilidade da mulher na política, lançando candidatas com forte apoio financeiro, para dividir o mapa dos principais cargos políticos com os homens.
Esse é o desafio da organização de marketing político de mulheres Emily -iniciais em inglês de "Early Money Is Like Yeast" ou, em português, "dinheiro no princípio é como fermento"-, dos EUA, segundo sua consultora sênior Dee Ertukel.
No país para falar sobre a Emily, que é ligada ao Partido Democrata, Dee Ertukel deu uma entrevista exclusiva à Folha.
A seguir, os principais trechos.
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Folha - O que é a Emily?
Dee Ertukel - É uma organização ligada ao Partido Democrata dos EUA, responsável por identificar candidatas potenciais a cargos eleitorais no país. A Emily foi fundada há 12 anos por 25 mulheres que estavam frustradas com o declínio do número de deputadas na Câmara dos Deputados dos EUA e com as barreiras que impediam que as mulheres chegassem aos mais altos cargos políticos do país.
Folha - Qual é a principal?
Ertukel - É a financeira. Por isso, o nosso lema é "dinheiro no princípio é como fermento". Temos hoje 45 mil membros, que enviam doações diretamente às nossas candidatas.
Folha - Qual a maior dificuldade que uma mulher enfrenta para ser eleita nos EUA?
Ertukel - Credibilidade. Não somos vistas como líderes. Isso nos impede de ter acesso aos recursos que permitiriam que competíssemos em igualdade de condições com os homens.
Folha - Como a Emily atua para reverter esse quadro?
Ertukel - Em três níveis: obtenção de recursos financeiros, organização das campanhas, o que inclui o treinamento de funcionários na arte de arrecadar fundos, e mobilização do voto feminino, porque o voto não é obrigatório nos EUA.
Folha - E os resultados?
Ertukel - Desde que começamos, já elegemos 6 mulheres para o Senado, 3 governadoras e 42 deputadas para a Câmara dos Deputados dos EUA.
Folha - O partido rival conta com organização semelhante?
Ertukel - Sim. Ajudamos nossas rivais republicanas, em 1992, a formar a Wish (iniciais em inglês de "Women In the Senate and House", ou, em português, "mulheres no Senado e na Câmara dos Deputados").
Folha - É difícil arrecadar dinheiro para suas candidatas?
Ertukel - As mulheres, até há pouco, não tinham acesso às principais fontes de recursos, que são as contribuições das grandes empresas e dos sindicatos. Mas está havendo uma mudança cultural. Esses setores começam a acreditar que as mulheres são eleitas não só para defender causas feministas. Houve um acréscimo na arrecadação de recursos de 225% em quatro anos. Em 1992, arrecadamos US$ 4 milhões. No ano passado, conseguimos US$ 15 milhões.
Folha - Quanto custa, em média, uma campanha eleitoral para os altos cargos nos EUA?
Ertukel - Entre US$ 700 mil e US$ 1 milhão para a Câmara. Campanhas caras, sabendo-se que um indivíduo pode contribuir no máximo com US$ 1.000.
Folha - Qual foi o maior sucesso da Emily?
Ertukel - Estabelecer credibilidade para as mulheres candidatas e bater recordes de arrecadação de fundos.
Folha - Qual é o exemplo de destaque de mulher na política?
Ertukel - Deixando a ideologia de lado, no terreno mundial quem mais se destacou foi a ex-premiê britânica Margaret Thatcher e, nos EUA, Dianne Feinstein, reeleita para o Senado, pela Califórnia, enfrentando a campanha milionária de Michael Huffinton.
Folha - Aqui no Brasil, há uma cota de 20% para mulheres no Congresso. Isso é bom?
Ertukel - É uma oportunidade, mas por que 20%? Por que não 50%? Afinal, pelo menos nos EUA, representamos 51% da população...

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