São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997 |
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Para Funai, madeireiros ameaçam tribo
AUGUSTO GAZIR
"O contato é visto como uma defesa. Só acontece o contato que visa a atração quando as comunidades estão ameaçadas por grupos econômicos, como as madeireiras", disse Antonio Pereira Neto, antropólogo da Funai. Na última quinta-feira, um índio do grupo isolado dos corubos matou a pauladas o auxiliar de sertanista da Funai Raimundo Batista Magalhães, 42, o Sobral, na reserva indígena do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. A tribo dos corubos, de tradição guerreira, vem sendo ameaçada por madeireiros, segundo a Funai. "Ou se faz o contato, ou esses índios acabam", afirmou Pereira Neto. Além da reserva dos corubos, a Funai tem seis frentes de contato com grupos indígenas isolados e ameaçados. Todas essas tribos estão localizadas nas regiões Norte e Centro-Oeste. Uma dessas tribos é a avá-cavoeiro (GO), a 150 km de Brasília, ameaçada pelo garimpo. O trabalho com esses índios é considerado "tranquilo". 40 grupos isolados Os técnicos da Funai calculam que há no Brasil 40 grupos indígenas que nunca tiveram "contato fixo" com o homem branco. Esses índios não são procurados porque, segundo a entidade, não existe ameaça contra eles. O trabalho dos sertanistas que tentam o contato com tribos isoladas é demorado, arriscado e exige persistência. Segundo a Funai, quando se detecta um grupo isolado de índios, é criada uma reserva indígena para protegê-lo. A primeira tarefa é reconhecer a área com o auxílio de satélites. Há índios e sertanistas, funcionários da Funai, que são capazes de reconhecer a língua falada pela tribo ao examinar objetos produzidos pelos índios, como flechas. Os grupos de reconhecimento sempre têm intérpretes. O pessoal da Funai usa sempre o mesmo uniforme para passar a ser reconhecido pelos índios. Os funcionários montam um acampamento próximo à comunidade e começam a deixar presentes na mata, como tesouras e caça. Presentes "(Os presentes) parecem infantis, mas para os índios uma tesoura é um salto de tecnologia que assusta", disse Pereira Neto. "Quando se presenteia, é criada uma dependência que facilita a atração." Os sertanistas nunca chegam à tribo para fazer o primeiro contato. São os índios que, com o tempo, vão até o acampamento da Funai procurar os presentes. Esse trabalho demora anos. Com os corubos, por exemplo, os técnicos da Funai trabalharam vinte anos até o primeiro encontro formal, ocorrido em outubro. "Nesse meio tempo, os índios ameaçam e defendem seu espaço", afirmou Pereira Neto. Ele citou o exemplo da tribo dos araras, no Estado do Pará. Até o primeiro contato, em 1983, 13 funcionários da Funai foram feridos a flechadas pelos indígenas. Texto Anterior: Polícia Militar retira invasores de delegacia de ensino no RS Próximo Texto: Polícia Federal vai apurar assassinato Índice |
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