São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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Tucano faz campanha contra projeto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Salvador Zimbaldi (PSDB-SP) assumiu a liderança da campanha contra o projeto de lei que regulamenta o aborto legal (casos de estupro e risco de vida da gestante) e aposta que ele será rejeitado pelo plenário.
Zimbaldi conseguiu ontem reunir 87 assinaturas de deputados (eram necessárias 52) e apresenta hoje recurso para forçar a votação em plenário. Sem isso, o projeto, aprovado na semana passada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, iria para o Senado.
Para aprovação ou rejeição, é preciso haver metade mais um dos votos dos presentes -a favor ou contra. O quórum para que haja votação é de 257 deputados.
Para Zimbaldi, o projeto é mais injusto do que a pena de morte, pois não dá direito de defesa aos fetos. "No caso da pena de morte, você dá aos acusados o direito à defesa, a falar."
Ele declarou que é uma "tapeação" dizer que o projeto permite o aborto só nos casos de estupro e risco de vida para a mulher.
"O que vai acontecer é um mercado de atestados médicos e boletins de ocorrência. Ora, a Câmara não aceita atestados para justificar ausência. Quem falta a uma sessão tem de se submeter a uma junta composta por três médicos da Casa, mesmo que traga um atestado", declarou o deputado.
Zimbaldi disse que o projeto é uma forma de descriminalizar o aborto em qualquer circunstância. Católico, ele esteve com o papa João Paulo 2º no dia 30 de julho, em audiência pessoal, quando, segundo ele, conversou sobre o assunto superficialmente.
Casado há 21 anos, com três filhos, Zimbaldi afirmou que, se sua mulher ou sua filha enfrentassem uma gravidez provocada por estupro, levariam a gestação até o fim.
As deputadas Marta Suplicy (PT-SP) e Sandra Starling (PT-MG) discutiram ontem sobre que medidas vão adotar para tentar aprovar o projeto no plenário. Segundo Marta Suplicy, se o projeto for derrotado, "o jeito é começar tudo de novo". Ela diz acreditar que a opinião pública tenha assimilado que o projeto é positivo.
O argumento usado por Zimbaldi, de que seria formado um comércio de atestados, é absurdo, de acordo com a deputada.
"Você se apresentar como estuprada para conseguir um boletim de ocorrência é tão constrangedor que poucas mulheres se submeteriam a isso. Eu não me preocupo com isso. Me preocupo com o desespero dela", disse ela.
Marta Suplicy afirmou que, se o deputado Zimbaldi tivesse estudado a regulamentação do aborto nos Estados, saberia que em Pernambuco basta a palavra da mulher para realizar o aborto em caso de estupro. Ruth Cardoso se recusou ontem a falar sobre o projeto de lei.

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