São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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'PopMart' x contradição

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

Depois de "PopMart", é difícil imaginar que os irlandeses do U2 possam ir mais longe em sua obsessão de crescer mais.
Tudo na turnê, que passou pelo estádio de Wembley na sexta e sábado últimos, é de proporções gigantescas.
Há um arco que toma metade do palco, um limão de mais de dez metros de altura que se transforma em nave ou globo de discoteca, uma azeitona inflável apoiada em um palito de 20 metros, um telão de 800 metros quadrados.
O show começa com músicas do último álbum, "Discotheque", após o grupo fazer uma entrada ao estilo dos boxeadores, com Bono vestindo um roupão.
Depois, fazem uma espécie de seleção de sucessos, com "I Will Follow", "New Year's Day" e "Even Better than the Real Thing".
Bono e o guitarrista The Edge ficam sozinhos no palco para uma versão acústica de "Staring at The Sun". Bono sai, e The Edge canta "Suspicious Mind", de Elvis Presley, na sexta, ou "Wake up Sleepy Dreamer", no sábado.
Depois de um intervalo preenchido por um fundo de música tecno, o grupo volta ao palco, dessa vez saindo do limão metálico como se fosse uma nave espacial.
Atacam "Discotheque" e, depois, outra sucessão de hits.
Com "PopMart", a banda parece ter atingido um ponto em que as contradições de seu repertório antigo com a estrutura megalomaníaca montada para a turnê chegam a incomodar.
Como ouvir, por exemplo, "I Still Haven't Found What I'm Looking For", talvez a canção mais fervorosamente religiosa do U2, no ambiente de supermercado da turnê sem tentar enxergar alguma ironia oculta?
O telão não busca qualidade de imagem. As cores chapadas tanto podem ser uma referência a HQs, pop art ou à experiência de assistir a um seriado de TV em um aparelho desregulado.
O grupo pára antes de enfatizar mais suas contradições. A platéia de Londres sai do show sem ouvir "Sunday Bloody Sunday". Não tocar a música na capital britânica seria inimaginável há alguns anos.
Em vez dela, a platéia ouve Bono cantar à capela "Unchained Melody", tema do filme "Ghost".
No Brasil, onde devem se apresentar em 98, os fãs, privados de ver de perto a transição pela qual o grupo passou nos últimos três discos, podem ficar decepcionados.

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