São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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EUA dão asilo a desertores coreanos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Dois diplomatas norte-coreanos chegaram aos EUA, onde receberam asilo político, anunciou ontem o Departamento de Estado norte-americano. As autoridades comunistas da Coréia do Norte, porém, dizem que os fugitivos são funcionários corruptos tentando escapar de um processo e não dissidentes.
Mais de 150 pessoas fugiram da comunista Coréia do Norte nos últimos três anos. Em fevereiro, Hwang Jang-yop, o ideólogo do regime, se refugiou na embaixada sul-coreana em Pequim durante uma visita oficial e, após 34 dias, foi às Filipinas. De lá, seguiu para a Coréia do Sul.
Jang Seung-il é o mais importante diplomata norte-coreano a desertar. Ele era embaixador no Egito e conheceria importantes segredos da venda de mísseis norte-coreanos para países do Oriente Médio. Autoridades egípcias disseram que ele deixou o país com passaporte norte-americano e nome falso.
O outro desertor é Jang Seung-ho, que atuava como adido comercial em Paris. Ele é irmão do ex-embaixador. A mulher de Jang Seung-il também recebeu asilo político.
Os segredos que Jang Seung-il conheceria são o tema da reunião hoje entre representantes norte-coreanos e norte-americanos em Nova York: a planejada venda de mísseis balísticos da Coréia do Norte para o Oriente Médio. James Rubin, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, disse não acreditar que a fuga de Jang possa pôr em risco essa negociação.
A reunião de hoje precede outra considerada mais importante, marcada para Genebra (Suíça) em 15 de setembro, entre representantes dos EUA, China, Coréia do Norte e Coréia do Sul. Trata-se de negociações que buscam um acordo de paz entre as duas Coréias, cuja divisão ideológica data da década de 40 e sobrevive ao fim da Guerra Fria.
Fugas de funcionários do regime norte-coreano têm sido comuns, mas, segundo Rubin, os EUA não as relacionam a "uma manifestação de crise na liderança norte-coreana".
As frequentes fugas são atribuídas à repressão política que ameaça até dirigentes do regime e às dificuldades econômicas que põem a Coréia do Norte em situação de fome generalizada (leia texto abaixo).
Os EUA se recusaram a divulgar detalhes sobre a fuga dos diplomatas, argumentando se tratar de um assunto "muito sensível". A Coréia do Sul pediu aos Estados Unidos permitir que funcionários sul-coreanos interroguem os desertores do Norte.
Jang estava desaparecido desde sexta-feira, mas funcionários da embaixada no Cairo insistiam em negar a fuga. Ontem, um diplomata norte-coreano em Paris, que não quis se identificar, disse que os desertores fugiram para evitar inquérito por malversação e que o governo norte-coreano vai pedir a repatriação deles.

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