São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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Escândalo da esterilização cresce na Europa

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A revelação de casos de esterilização forçada se alastrou ontem pela Europa, com notícias divulgadas na Suíça, Dinamarca, Finlândia e Noruega.
Na semana passada, uma série de artigos publicados pelo jornal sueco "Dagens Nyheter" revelou que cerca de 60 mil pessoas foram submetidas a esterilização no país.
Essa política de Estado com objetivo de "higiene social" foi instituída legalmente na Suécia em 1935 e vigorou, pelo menos na legislação, até 1976.
Ontem, a TSR, televisão suíça em língua francesa, revelou que o Cantão (região) de Vaud (leste do país) teve uma política semelhante, instituída por lei a partir de 1928. Não foi divulgado quantas pessoas teriam sido esterilizadas.
O professor suíço de história contemporânea Hans Ulrich Jost, entrevistado pela emissora, afirmou que não ocorreram apenas casos isolados e que outros Cantões também praticaram a esterilização forçada, sem amparo legal.
Jornais da Noruega e da Finlândia também levantaram casos de esterilização compulsória, estimando-os em 2.000 e 1.400, respectivamente, segundo números oficiais. O escritor norueguês Olof Rune Ekeland Bastrup teria mencionado de 12 mil a 15 mil casos na Noruega, em entrevista à TV.
Jornais da Dinamarca falam em centenas de casos no país, especialmente prostitutas, delinquentes e deficientes.
Segundo a historiadora sueca Maija Runcis, que prepara tese de doutorado sobre a esterilização forçada na Suécia, a prática era comum na República de Weimar (o governo alemão de 1919 até a ascensão do nazismo).
Investigação
O líder político conservador sueco Carl Bildt pediu ontem que o governo investigue o escândalo. A esterilização incluía deficientes físicos, mentais e outras pessoas consideradas inferiores, como delinquentes, prostitutas e ciganos.
A prática já havia sido revelada em 1986, mas na semana passada o "Dagens Nyheter" apontou a sua real dimensão. Antes, estimavam-se em 13 mil os esterilizados.
"A sociedade sueca corre o risco de se ver prejudicada se não fizermos uma investigação séria, profunda e apartidária desse período da história", afirmou Bildt em carta enviada ao premiê sueco, o social-democrata Gõran Persson.
Bildt, premiê de 1991 a 94, toca numa ferida que pode ter consequências eleitorais graves para os social-democratas. Durante todo o período em que a esterilização era legal, o país foi administrado pelos social-democratas, que governaram de 1932 a 1976.
O premiê Persson não comentou o caso ontem, apesar de o governo já ter admitido que pode indenizar vítimas da esterilização forçada.

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