São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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Suécia perde imagem de sociedade ideal

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

A esterilização em massa realizada pela Suécia desgasta ainda mais a imagem de sociedade ideal que o país cultivou até há pouco.
O episódio se soma a outros que evidenciam um lado sombrio desse país "modelo", desde a colaboração com o nazismo até acusações de excessos por um Estado assistencial que teria beirado o totalitarismo. E, por fim, se tornado economicamente inviável.
Problemas com alcoolismo, depressão, um alto índice de suicídio e o assassinato até hoje não resolvido do principal líder do país no pós-Guerra, o premiê Olof Palme, ajudam a compor esse quadro.
Hoje os suecos se perguntam, com um certo mal-estar, como episódios como a esterilização em massa permaneceram quase escondidos por décadas. E ainda hoje não constam de livros escolares.
O modelo sueco, como era chamada a combinação de economia de mercado com uma ampla política de assistência social, foi implementado a partir dos anos 30 pelo Partido Social Democrata, que governou a Suécia ininterruptamente de 1932 a 1976.
Durante décadas, o modelo sueco foi um paradigma para a esquerda, oferecendo uma terceira via entre o capitalismo e o comunismo, entre os EUA e a URSS.
Essa opção foi adotadA por partidos social-democratas e mesmo comunistas (como na Itália) da Europa Ocidental.
Em 1991, o então líder soviético, Mikhail Gorbatchov, propôs que o Partido Comunista do país adotasse o modelo sueco. A tentativa de golpe daquele ano acabou com Gorbatchov e abortou a proposta.
Já nessa época, porém, o modelo sueco começava a se desintegrar economicamente e a ser questionado pela excessiva ingerência na vida pessoal dos cidadãos.
A crise começou com o que hoje se chama de globalização. Atraídas por custos menores e pela menor carga tributária, empresas suecas transferiram produção e investimentos para o exterior.
O forte aumento do número de desempregados fez explodir o déficit público, devido ao seguro-desemprego e outros benefícios concedidos pelo Estado. Em 91, os social-democratas perdem a segunda eleição em 59 anos. Acabava o mito do modelo sueco.

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