São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Estilo Gerald Thomas se impõe sobre Primeiro Ato

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O espetáculo "A Breve Interrupção do Fim", que o grupo de dança Primeiro Ato estreou no último sábado no Teatro Sesiminas, de Belo Horizonte, é mais uma obra teatral do diretor Gerald Thomas.
Ao convidar Thomas para uma parceria, o grupo presumivelmente deveria apresentar um cruzamento de linguagens.
A expectativa era: até que ponto a dança-teatro praticada pelo grupo absorveria a estética do diretor e como a dança poderia interferir no teatro de Thomas, gerando um resultado estimulante?
No entanto, a personalidade de Thomas predominou, e o que se viu não foge aos moldes do que ele vem apresentando até agora.
Para Suely Machado, diretora do Primeiro Ato e autora da coreografia, sobrou o papel de coadjuvante, como se ela fosse uma das convidadas numa produção de Thomas.
Espectador assíduo de espetáculos de dança, Thomas é capaz de citar uma infinidade de grupos sobre os quais já deteve o olhar -do britânico DV-8 ao francês de Maguy Marin.
Ver, contudo, é diferente de fazer com intimidade. Pina Bausch, que Thomas admira, sentiu no próprio corpo as exigências de técnicas acadêmicas e modernas antes de conceber seu teatro-dança.
Criar um espetáculo de dança implica domínio de um vocabulário que não se resume à expressão ou movimentação cênica de atores.
Com o grupo Primeiro Ato, Gerald Thomas selou uma experiência apressada.
Interrupção
A impressão que se tem, em "A Breve Interrupção do Fim", é de que no início ainda houve tempo para se propor uma interpretação coreográfica do tema -sobre o caráter libertário das mulheres e a desmistificação do poder masculino, representado por personagens históricos (Hitler, Gandhi, Elvis, Napoleão, Cristo).
Porém a tentativa de diálogo entre a coreografia e a encenação teatral vai sucumbindo até que o teatro de imagens de Thomas se impõe por completo.
Nesse desacerto, preservou-se alguma ironia, mas comprometeu-se a densidade do tema, em que os personagens que encarnam o poder masculino parecem representar a cultura trash do final de milênio.
Lembrando que também estamos falando da companhia Primeiro Ato e não somente de Gerald Thomas, vale notar que este grupo mineiro merece atenção e reconhecimento.
Seu interessante elenco inclui bailarinos que já tocam a condição de intérpretes. Agora é obrigatório que o grupo se exponha, paulatinamente, a novas e mais complexas informações, para que os bailarinos possam depurar a qualidade de seus movimentos e de sua expressividade.

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