São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA

Beber rum e contar suas lembranças sobre Che Guevara e os primeiros dias da Revolução Socialista em Cuba são os principais prazeres do fotógrafo cubano Alberto Korda, 70.
Mais que prazer, as lembranças de Che hoje são sua fonte de renda. Alegando ter sido explorado ao não receber direitos autorais de suas fotos, hoje Korda cobra 300 dólares para conceder uma entrevista em que conta, por exemplo, como fez a foto mais famosa de Che: "El Guerrillero Heroico" (abaixo).
A partir da próxima terça, ele dará três palestras no Senac Lapa, duas delas abertas ao público. No mesmo tempo e espaço, estará inaugurando a exposição "El Che en Cuba", com 41 fotos que mostram um Che pouco conhecido pela maioria. Nelas podemos ver um Guevara elegante conversando com Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir ou pilotando uma máquina colhedeira numa plantação de cana-de-açúcar, com o rosto todo sujo de fuligem.
A principal característica das fotos de Korda é justamente a de humanizar o mito Che. Sem maneirismos no estilo, Korda, um castrista de carteirinha, retratou seu personagem com a consciência de quem estava participando de um dos momentos mais importantes da história deste século.
Dessa forma, Korda está para a Revolução Cubana como Rodchenko, em exposição no MAM até domingo, está para a Revolução Russa.
Quanto ao estilo, porém, os dois divergem totalmente. Sem dúvida, Korda fotografou Che com a intenção de atribuir a ele uma aura mítica, mas não o fez como Rodchenko, que explorava planos de baixo para cima, fazendo seus ídolos parecerem titãs.
Os ângulos e as composições de Korda, ao contrário, são absolutamente simples. O que reforça a idéia de um Che como um ser comum, como "alguém do povo".
Assim, o fotojornalista Korda conseguiu flagrar momentos reveladores de Che como ministro e presidente do Banco Nacional de Cuba. Uma expressão preocupada e soturna de Che dentro de um ônibus. Che sem camisa lendo um livro ou pescando com Fidel. Sorrindo em meio a operários e colhendo cana. Enfim, imagens que revelam um Che que sabia usar a mídia a seu favor. Como, aliás, todo bom astro pop.

Mostra: El Che en Cuba, de Alberto Korda
Quando: de 3 a 10/9, das 10h às 21h; sáb e dom, das 14h às 20h
Onde: Senac Lapa (r. Scipião, 67, tel. 011/872-6722)
Quanto: entrada franca
Palestras: 3 e 4/9, às 20h (reservas pelo tel. 011/829-4122, com Silvia)

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