São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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O labirinto sombrio de Diego

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, ainda com o eco na cabeça da festiva torcida do Boca no La Bombonera (vi, na quarta, o empate contra o Independiente, pela Supercopa) imagino a angústia daquela gente com mais um caso Maradona.
Que destino terrível o deste pobre diabo, depois de Pelé o melhor jogador que já vi atuar, que tentou se reerguer várias vezes e não conseguiu.
Perambulando pelas livrarias de Buenos Aires encontrei o livro "Maradona: Iconografia de la Patria", de Gustavo Bernstein. Ele defende a idéia de que o mito Maradona, com o seu talento e a sua disposição para a "trampa", é a própria Argentina. "Sua encruzilhada nos delata", diz Bernstein.
Para o autor, Maradona entrou em um "sombrio labirinto". "O caminho que lhe cabe não é precisamente linear: apresenta infinitas bifurcações e encruzilhadas, avanços e retrocessos", escreve Bernstein.
Nos jornais da segunda, Diego Armando Maradona dizia que já esperava ser sorteado para o exame de doping e que, por segurança, havia feito um exame privado antes da partida (curiosa confissão prévia: se não tivesse ingerido nenhuma substância proibida pela medicina esportiva, não precisaria de um teste prévio).
O resultado do exame de Maradona vai atingir o Boca Juniors como atingiu a seleção argentina em 94: deprimirá a equipe no momento em que tudo era otimismo entre os boquenses (novas contratações, títulos na Bolsa etc.).
Será que a sina deste "pibe" infeliz servirá para nos iluminar alguma verdade humana?
*
Como os mais jovens escalariam a sua seleção dos mais elegantes?
Movido por essa curiosidade, pedi a seleção do repórter da Folha Mário Magalhães. Ele me explica que escolheu uma seleção "da era da TV".
No gol, no primeiro tempo, ele vai de Dasaev, "pitada de Maiakovski a provocar o realismo socialista"; no segundo, vai de Raul Plasmann, "que ousou um laranja-cheguei" muito antes do Gap.
Depois Leandro ("um clássico do futebol contemporâneo que não se travestiu de pós-moderno"), Don Elias Figueroa ("elegante até nas cotoveladas"), Andrade (recuado, "deveria jogar de gravata borboleta"); no banco, Ronaldão, ("pérola negra") e Vinhas ("craque do Pelotas que passava a bola como se ensinasse geometria no estádio da Boca do Lobo").
Falcão ("não jogava, desfilava"), Paulo César Caju ("na lama dos estádios no inverno do Sul saía de uniforme imaculado"), Enzo Francescoli ("poderia ganhar a vida a bailar um tango ou um pop uruguaio"), e Zico ("socando o ar, era um modelo superior a Pelé").
No ataque, Reinaldo ("o punho erguido merecia ter sido imortalizado por Tina Modotti") e Dener ("que o meu mestre Alberto Helena esqueceu na seleção de todos os tempos da Lusa").
Na reserva do ataque, Doval, o corisco anjo-loiro, e Fio Maravilha, elegante até ao exibir sues dentes pornográficos depois de uma furada de bola.
Técnico: Carlos Alberto Parreira, elegante e generoso até na hora mais difícil, a do triunfo.

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