São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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Pesquisadora se expõe no livro

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só o perfil do comandante Feijó que salta das páginas de "Memória Paulista". O livro também expõe facetas da pesquisadora que o assina.
Frequentemente, Vavy Pacheco Borges, 60, surge no texto para contar particularidades de sua vida que se relacionam com os fatos históricos narrados.
Ou, então, para desnudar os dilemas éticos e as dificuldades que a atormentaram durante a pesquisa.
Às vezes, manifesta até simpatia pelo personagem estudado e confessa tratá-lo intimamente por "meu coronel".
Um dos trechos mais saborosos do livro aborda as ligações afetivas da família de Vavy com a Revolução de 1932.
É quando a historiadora paulistana conta que sua avó se orgulhava de "ter tricotado para os combatentes", que o capacete militar de seu tio "acabou virando vaso de plantas" e que seu pai, "carioca morando em São Paulo", participou da guerra civil, mas se limitou a guiar caminhões porque temia atirar nos próprios irmãos, soldados das trincheiras inimigas.
A autora também revela que, por herança familiar, atravessou a infância e parte da juventude odiando "o Getúlio".
"Abanei muito lenço branco em cima dos ombros de meu avô nos comícios da União Democrática Nacional, partido que se formou fundamentalmente em oposição a Vargas", escreve.
Com tais observações, contraria o chamado "positivismo histórico", corrente teórica que predominava durante os anos 50, quando Vavy se graduou, e que prega o distanciamento, a objetividade do pesquisador.
"Não gosto de estudos em que 'a verdade' aparece pronta, acabada e definida, quase como um dogma religioso. Prefiro os trabalhos que tornam explícitos os caminhos percorridos pelo historiador", disse anteontem à Folha.
Professora da Unicamp (Universidade de Campinas), Vavy já publicou outros quatro livros, incluindo um sobre o tenentismo.
(AA)

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