São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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Poder de ACM, 70, vai do governo ao axé

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), completa 70 anos de vida e 43 de "malvadeza", nesta quarta-feira, com uma grande festa na Bahia.
"Só não me ama quem ainda não me conhece", disse o aniversariante à Folha, sobre a sua trajetória política iniciada em 1954, quando foi eleito deputado estadual (veja quadro nesta página).
Desde o início da carreira, com exceção de intervalos estratégicos de "ternura", ACM desenvolve o método de bater pesado nos adversários, se possível para retirá-los da cena política.
O estilo resultou no apelido de "Toninho Malvadeza", que os seus aliados baianos juram ter sido trocado, há algum tempo, por "Toninho Ternura".
A festa do aniversário vai refletir o acúmulo de poder de ACM no momento. O seu grupo controla o governo, a Prefeitura de Salvador, a maioria dos municípios e as emissoras que retransmitem a programação da Rede Globo.
Como se diz em Salvador, ACM manda até no rebolado da axé music. Isso por conta do apoio financeiro que o grupo político do senador tem dado aos cantores e grupos musicais.
"São meus amigos", disse o senador, depois de citar de um só fôlego o nome de uma dezena de artistas e bandas do seu Estado.
O futuro
A preocupação política do senador, aos 70, é entregar ao filho e deputado federal Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), mais provável candidato ao governo baiano, todo esse "império".
ACM fala no nome do filho, mas alguns dos seus mais importantes aliados na Bahia citam o próprio ACM como "candidatíssimo" ao quarto mandato como governador. "Estão falando isso e até creio que ganharia fácil, mas está bom, já estive lá por três vezes".
Segundo Antonio Carlos Magalhães, além do filho, o próprio Paulo Souto (PFL) também pode ser candidato à reeleição, caso não dispute uma vaga no Senado.
No tabuleiro político de ACM existe até a possibilidade de Luís Eduardo aparecer como vice na chapa do presidente Fernando Henrique Cardoso, que vai tentar a reeleição ao Palácio do Planalto.
Embora já seja muito comentada por deputados do PFL da Bahia, essa hipótese é minimizada pelo próprio senador. "Esse caso está praticamente resolvido, com o Marco Maciel na vice-presidência", disse.
Derrotas
Duas derrotas políticas recentes deixaram marcas no chamado "carlismo", como é denominado a religiosa corrente que segue ACM no seu Estado.
A primeira queda foi em 1986, quando Waldir Pires, na época no PMDB e hoje filiado ao PT, bateu nas urnas o candidato de ACM ao governo baiano, o pefelista Josaphat Marinho.
Coube a uma mulher, na conservadora e machista política baiana, fazer o segundo estrago no "carlismo", em 1992, quando Manoel de Castro (PFL) foi derrotado por Lídice da Mata (PSDB) na eleição à Prefeitura de Salvador.
A ex-prefeita diz que pagou caro por esta façanha. Acredita que, no seu caso, Antonio Carlos Magalhães, ocupando o cargo de governador do Estado, utilizou a dosagem máxima da falada malvadeza.
"Não recebemos praticamente um centavo do governo estadual", conta. "Além disso, eu só aparecia na TV Bahia (do grupo de ACM, afiliada da Rede Globo) em notícias muito negativas".
A ex-prefeita também atribui à influência do adversário o bloqueio das contas da prefeitura, no final do seu mandato, em 96.
O bloqueio ocorreu, segundo decisão da Justiça estadual, para tentar garantir o pagamento de funcionários públicos.
O conflito de ACM e Lídice registrou até uma briga pública durante o encontro em uma festa de rua, em 2 de julho de 94.
O senador menospreza o atrito. A ex-prefeita conta a sua versão."Ele mandou que eu saísse da sua frente e me chamou de idiota", conta. "Então eu respondi, brava: desencarne de mim".

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