São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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Efeito Encol faz mercado buscar saídas

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação), Ricardo Yazbek, torce o nariz diante das notícias de que a paralisia tomou conta do mercado de imóveis depois que a Encol ganhou as manchetes.
Não é bem assim, retruca ele. A virtual falência da Encol, na análise de Yazbek, "arranhou o mercado", mas é fato isolado, incapaz de esvaziar os estandes de construtoras/incorporadoras que lançam prédios na planta.
Empresas do setor, entretanto, admitem o impacto do "efeito Encol" sobre a comercialização de imóveis novos.
Gerson Luiz Bendilati, diretor da Inpar, disse à Folha que no último final de semana foram poucas as visitas aos plantões de venda.
Fábio Rossi Filho, diretor da Itaplan Imóveis, relatou que a maior preocupação do consumidor na hora da venda, detectada de dois meses para cá, se acentuou com a crise da Encol.
A Júlio Bogoricin Imóveis avaliou em pelo menos 10% a retração na procura por apartamentos novos.
Com o tempo, o impacto poderá se diluir e tudo voltar ao normal, mas o susto dado pela Encol foi tão grande que mesmo empresas sólidas poderão ter dificuldade em reconquistar a confiança do consumidor.
A tendência, agora, será a busca de alternativas que transmitam mais segurança tanto ao comprador quanto aos investidores, avalia Fábio de Araújo Nogueira, diretor de crédito imobiliário e poupança do Banco de Boston.
"Encol dos EUA"
Ele aponta a criação de Sociedades de Propósito Específico (SPE) como um dos caminhos a ser seguidos, a exemplo do que ocorreu nos EUA após a quebra da megaconstrutora Olympia & York, em 1992.
Por meio dessas sociedades, lá fora conhecidas como SPCs ("Special Purpose Companies"), financia-se, no caso de imóveis, um projeto específico, e não a empresa-mãe responsável por ele.
Até o final das obras e a entrega das chaves, o caixa de determinado empreendimento é segregado dos demais e controlado à parte.
A Gafisa já está em seu quinto projeto nesses moldes, conta Levi Zylberman, diretor comercial.
O consultor Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro, da Adviser, concorda com o diretor do Boston. Na última semana, revela, participou de reuniões em que a opção da SPE foi colocada na mesa.
Um conjunto A que está sendo construído no bairro X da cidade Y "tem seu caixa autônomo e, por isso, não é contaminado por eventuais problemas financeiros da empresa responsável pelo projeto", explica o consultor.
Yazbek faz ressalvas porque, segundo ele, a estrutura exigida pela SPE encarece muito o projeto.
Além disso, é mais viável em grandes empresas com condições de, sozinhas, emitir debêntures. A marca do mercado imobiliário brasileiro, lembra ele, é de pequenas e médias empresas locais.
O presidente do Secovi-SP atribui a crise da Encol a seu gigantismo. "Essa empresa tinha 4,8% do mercado; 95% atuam direito."

LEIA MAIS sobre a Encol na pág. 2-6

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