São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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Acionar a Encol não é a melhor opção

CLEIDE FLORESTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Abrir uma ação judicial contra a Encol pode não ser a melhor alternativa para o comprador lesado.
Advogados ouvidos pela Folha aconselham os clientes da empresa a esperar uma definição do governo junto aos credores para só depois tentar uma negociação ou até mesmo uma ação judicial.
O advogado Mauro Bueno, 43, da Associação Nacional dos Clientes da Encol, defende as negociações e afirma que as ações não são a melhor opção dos compradores.
"Os credores que entraram com processo não estão conseguindo receber e ainda aumentaram seus gastos", argumenta o advogado.
O mutuário Ralf Augustin Vassalo, 33, por exemplo, abriu uma ação em outubro de 96. Ele ganhou a ação em primeira instância, mas a Encol recorreu e Vassalo não sabe até quando terá de esperar por uma decisão final. "Na verdade, eu corro o risco de ganhar o processo e não receber nada."
O advogado Keyler Carvalho Rocha, 57, também afirma que a melhor opção, hoje, é esperar. "Como é um assunto público, com interferência do governo, o melhor é ver como vai ficar a situação."
Segundo o promotor de justiça de falências e concordatas, João Batista Mangini de Oliveira, 33, o mutuário pode até ganhar a causa, mas é grande a dificuldade de receber o que pagou de volta.
"Isso porque a Encol vai recorrer até a última instância. E o processo, além de complicado, demora muito", afirma.
Mangini é um dos clientes que esperam uma solução da crise. Ele quitou um apartamento, em um condomínio na Barra Funda (zona noroeste de São Paulo), e agora participa de uma comissão que tenta negociar com a empresa.
Só na cidade de São Paulo, há registro de 698 ações judiciárias contra a Encol. Segundo o Tribunal de Justiça, depois que a crise da empresa foi noticiada, esse número aumenta todos os dias.
Para o advogado Keyler Carvalho Rocha, quem optar por esse caminho deve fazê-lo coletivamente. "Se os compradores de um prédio se juntarem, eles podem abrir um processo para pedir a posse do imóvel."
A advogada Telma Ribeiro Santos, 55, está preparando a documentação para abrir uma ação conjunta de alguns compradores contra a Encol. E, ao contrário dos demais, acredita que o caminho seja o judiciário.
"Os donos da Encol são os responsáveis por essa crise. Vou basear a minha ação nisso."
Telma conta que já moveu outras ações desse tipo, em que a construtora não entregou os imóveis, e conseguiu executar os bens pessoais do dono da empresa para pagar a dívida.
O médico Luiz Cláudio Bosco Massarollo, 34, é um dos clientes da advogada. Ele não está medindo esforços para reaver o que investiu. "Eu não posso ficar com esse prejuízo. Os acordos que eles estão tentando são inaceitáveis. Acho que dá para ganhar."

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