São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997 |
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O furacão Sartre em Araraquara
NELSON DE SÁ; OTAVIO FRIAS FILHO
Folha - A visita de Sartre ao Brasil, a Araraquara, foi importante ou é um folclore que ficou? Zé Celso - Sartre veio logo depois da Revolução Cubana. Para esta pessoa que estava ali, com uma balancinha de faculdade de direito... Quando a gente lia, ficava doido com essa coisa concreta, a vertigem da liberdade. E bateu com a Revolução Cubana. Iam multidões assistir. "Furacão sobre Havana." Era o livro dele. Ele foi para Cuba e acompanhou Fidel (Castro). Em Araraquara, fez uma conferência bem técnica. * Folha - Foi (o presidente) Fernando Henrique quem traduziu? Zé Celso - Eu me lembro do Fernando Henrique com ele. Estava passeando de carro, vi os dois e acenei. Mas na conferência eu estava mais ligado no pensamento dele, que me interessava muito. Ele afirmava que eu tinha direito aos meus instintos, e que a libertação deles passava por outra forma de pensar. Era algo que me ligava muito. Ah, eu lembro que quem realmente levou Sartre a Araraquara foi o filósofo Fausto Castilho, de Campinas. Esse cara é vibrante, maravilhoso. Era o acompanhante, o animador. (Ri) E a Simone de Beauvoir sempre emburrada, dando broncas no Sartre. Folha - Por que ele foi a Araraquara para a conferência? Zé Celso - Foi um momento em que estava próximo da esquerda brasileira. Em Araraquara houve também um encontro no teatro Municipal -que meu avô ajudou a construir com uma maquinaria que unia o palco e a platéia- do Sartre com as Ligas Camponesas. Mas ele tinha outro lado, maluco. Naquela cara de sapo, adorava blues, o Genet. Canonizou, "São Genet, Comediante e Mártir". Tirou da prisão e fez um livro de 600 páginas. Um cara que dizia, "eu sou homossexual, ladrão, traidor", e o Sartre consagra. Folha - Ele viu "A Engrenagem"? Zé Celso - Viu. Foi no fluxo da conferência. "A Engrenagem" era interessante, porque a gente era populista, mas diferente do CPC (Centro Popular de Cultura), que ia educar o povo. A gente fazia com os operários da Perus, em greve. Ele adorou. A minha irmã, que é historiadora, encontrou fotos maravilhosas. Estava deslumbrado, ele, a Simone. Texto Anterior: Mandalas e mescalina Próximo Texto: No 'fornão' da tortura Índice |
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