São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Número de refugiados cresce e Brasil vira destino dos sem-país

Asilados dobram em dois anos; africanos lideram

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois dos sem-terra, a vez dos sem-país. Apesar de não ser de Primeiro Mundo, o Brasil também está se tornando destino de refugiados, em especial da África portuguesa, particularmente de Angola.
Até 31 de maio de 1992, havia 322 refugiados reconhecidos no Brasil. Em 1995, esse número pulou para 1.042 pessoas e, no último levantamento oficial, de 31 de maio deste ano, já havia passado para 2.209.
A triplicação dos refugiados em meados da década é justificada principalmente pelas dificuldades e guerras internas na África. Hoje, 1.786 do total de refugiados no Brasil são daquele continente, 175 das Américas, 120 do Oriente Médio, 101 da Europa e 27 da Ásia.
Os dados são da Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e foram repassados à Folha pela irmã Rosita Milesi, ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
A grande maioria dos refugiados vem de Angola, num total de 1.296, até setembro de 96. Além da língua, há um outro fator influenciando a opção dos angolanos pelo Brasil: um vôo direto da TAAG (Linhas Aéreas de Angola) entre Luanda, capital do país, e o Rio.
Mas há 201 refugiados da Libéria e, até, 1 do Congo, outro da Nicarágua e um terceiro de Sri Lanka. No caso liberiano, pesou a crise interna que começa a ser debelada com as eleições realizadas neste ano. A tendência, inclusive, é de que alguns dos refugiados comecem a fazer o percurso da volta.
Pelos dados do Alto Comissariado, a população de refugiados é formada, principalmente, por homens solteiros, com idade entre 21 e 35 anos. Mas também há mulheres e jovens desacompanhados.
Segundo o assistente de programa da Acnur em Brasília, o equatoriano José Samaniego, os jovens têm idades entre 16 e 20 anos, todos angolanos e morando com famílias amigas dos pais que morreram ou ficaram na África.
Apesar de terem origem urbana, só 1% dos refugiados frequentam universidades ao chegar ao Brasil. Em geral, têm baixo grau de escolaridade e as credenciais que apresentam à entrada do país -geralmente pelo Rio ou São Paulo- não correspondem à realidade.
"Eles se dizem carpinteiros ou encanadores, por exemplo, mas na prática não sabem manejar os equipamentos, desconhecem a terminologia e os materiais locais, o que dificulta o trabalho de absorção", admite a irmã Rosita.
Por isso, diz Samaniego, eles costumam fazer cursos rápidos no Sesi, Sesc ou Senai antes de enfrentarem o mercado de trabalho.
A figura do refugiado foi reconhecida pela Convenção da ONU de 1951, em Genebra. O termo se aplica a toda a pessoa que em seu país tem "fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas".
O conceito clássico da ONU, entretanto, foi ampliado e acaba de ser também modernizado no Brasil. O objetivo foi incluir também aqueles obrigados a deixar seu país "devido a grave e generalizada violação de direitos humanos".

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