São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Computadores e educação

NELSON PRETTO

Aconteceu em Cambridge (EUA) uma reunião com cerca de 200 pessoas, vindas de mais de 40 países em desenvolvimento, para discutir o futuro das crianças e do aprendizado nesses países.
Foram convidadas pessoas que estão trabalhando com as chamadas novas tecnologias, especialmente computador e Internet.
Nicholas Negroponte e Seymor Papert -o criador da linguagem Logo-, presentes durante todos os dias, são as grandes lideranças de uma fundação recém-criada para esse fim. Trata-se da Fundação 2b1 ("to be one", em inglês: "ser um"). Ser um num mundo tão dividido é, de fato, algo muito difícil. O site da 2b1 (http://www.2b1.org) merece ser visitado.
Durante o encontro, foi criado um país, um país somente das crianças e dos adolescentes. Um país virtual, que pretende ser uma articulação com o mundo real. Vejo vários problemas nessa idéia, mas não posso deixar de concordar que pode se constituir num belo espaço para crianças e adolescentes discutirem e proporem alternativas para este conturbado mundo em final de milênio. Para Negroponte, o Nation1 (http://2b1.org/nation1/) "é a possibilidade de as crianças ensinarem os adultos".
Gostaria de destacar alguns pontos dessa reunião. De um lado, a iniciativa de pessoas e instituições ricas e poderosas, que investem na melhoria das condições de vida dos povos e na possibilidade de diminuir as desigualdades.
Penso no Brasil e vejo pouca coisa sendo feita pela iniciativa privada com o objetivo de apoiar a escola pública para que ela possa se constituir no espaço da diminuição das desigualdades sociais.
De outro lado, assisti ao governador da Virgínia ocidental, um dos mais pobres Estados dos EUA, descrever a experiência de conectar todas as escolas públicas à Internet. A companhia telefônica local se encarregou das conexões e, perguntado sobre como conseguiu tal tarefa, ele não hesitou na resposta: "well, fiz uma pequena pressão!". Quando há vontade política, as coisas acontecem na educação, não tenho a menor dúvida.
Por fim, no espaço deste artigo, a fala de Alan Kay, que em 1976 criou na Xerox o computador portátil. O resumo de sua fala coincide com aquilo que venho defendendo cotidianamente. Não basta colocar o computador na escola. É preciso muito mais. Esse tem sido para mim o maior desafio. Ao tempo que o projeto de informatização das escolas está em andamento, precisamos de professores qualificados, e não basta ensiná-los a usar a máquina.
É preciso dar condições e autonomia para que esses professores, junto com as crianças, possam repensar a escola. Não estamos precisando colocar a Internet nas escolas. O fundamental é colocar as escolas na Internet. Parece pouco, mas, para ser um, isso faz uma grande diferença.

E-mail pretto@ufba.br

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