São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Exportadores de marcas e produtos

FRANCESC PETIT

Sem dúvida, a abertura do país foi um passo muito importante. O Brasil fechou suas fronteiras por quase 30 anos. Portanto, isso só podia acarretar um tremendo desequilíbrio em relação às nações desenvolvidas, associado a um forte espírito nacionalista. E mais: interesses corporativistas criados durante as diver sas ditaduras só podiam trazer isolamento e alienação do país como um todo.
Uma nação que tinha de alguma maneira sua reserva de mercado, um país lotado de interesses é aberto de repente: abrem-se as janelas e entra a luz do mundo moderno.
O primeiro dos casos é reabilitar a imagem do café brasileiro, que já foi o melhor do mundo. Não se trata apenas de um produto, é uma bandeira nacional. Aliás, o café nunca esteve tão na moda como hoje.
Na Europa, estão sendo abertos milhares de estabelecimentos especializados em café, diferentes dos antigos "cafés". Hoje, eles se apresentam como se fossem armazéns, celeiros.
No passado, o Brasil tinha marcas fortes e de prestígio além do café. Uma delas foi a Panair do Brasil; depois, a Varig. O futebol, com seus ídolos, principalmente Pelé, que foi um gigante em matéria de marca e prestígio para o país. Depois vieram os pilotos de Fórmula 1: Fittipaldi, Piquet e, finalmente, Senna.
Esses heróis ajudaram muito a vender o Brasil e seus produtos, mas acontece que ainda é muito escasso o número de produtos que são exportados. É raro visitar os supermercados da Europa ou dos Estados Unidos e encontrar nas prateleiras produtos nacionais, marcas brasileiras, muito menos produtos químicos ou farmacêuticos. É pior no setor industrial ou mesmo no de confecção de roupas.
Isso se deve à falta de investimento em marcas brasileiras. O Mercosul poderá ser o início da criação de um marketing internacional ou "global" de produtos brasileiros que já podem ser comprados, como Sadia, agências do banco Itaú e metais e louças Deca.
O governo espanhol, além de incentivos e redução de impostos, paga 50% de todas as despesas de propaganda e promoção que as empresas espanholas fazem no exterior. Uma medida desse tipo, além de dar impulso às exportações, ajudaria as agências de propaganda a também se instalar em outros países, acompanhando seus clientes.
Mas para os empresários brasileiros se apresentarem no Primeiro Mundo é preciso rever suas marcas, logotipos, imagem da empresa, material de divulgação, embalagens etc., que, na maioria das vezes, não são apresentáveis. Impossível entrar em mercados mais exigentes com o visual atual da maioria dos produtos brasileiros.
Assim, é como se tivéssemos de ir a um casamento a convite de um aristocrata francês, que requer uma série de roupas que dificilmente os alfaiates locais terão condições de fazer -uma casaca como manda o figurino, camisa, sapatos, uma roupa para a caçada ao veado, como é costume em todas as bodas, paletó vermelho, colete, calça, a gravata para a boda, além do fraque impecável para a festa no castelo do nobre.

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