São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997 |
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Falta de organização abala Veneza-97
AMIR LABAKI
A bagunça se faz sentir principalmente devido o sensível aumento do público do festival. Em vários inícios de sessão, Laudadio pessoalmente pede desculpas. Tem acusado os produtores culturais credenciados, que estariam atrapalhando o acesso às projeções de imprensa. Ontem cedo o curador repetiu a ladainha: "O festival tem sido feito com muito amor e cuidado". Os jornais do dia o contradiziam. O veterano ator Vittorio Gassman, no "La Repubblica", e atriz Chiara Mastroianni, no "Corrière dela Sera", reclamavam das descortesia da organização. O primeiro sequer foi avisado do cancelamento da sessão de encerramento da qual participaria. A segunda não foi convidada para as projeções em homenagem ao pai, Marcello Mastroianni, a quem o evento é dedicado. Problemas para chegar às salas, decepções depois de instalados. A aposta numa competição de revelações frustra-se. A compensação tampouco está nos filmes dos raros cineastas conhecidos. "One Night Stand" ajudou a serenar os ânimos ontem. Representa Hollywood na disputa. Mike Figgis retoma a fórmula sexo, jazz e agonia de "Leaving Las Vegas". Com muito menos contundência. Aids e adultério são os temas centrais. Wesley Snipes faz um diretor de publicidade que pula a cerca com Nastassja Kinski numa viagem a negócios a Nova York. Um tempo depois, descobre ser ela a cunhada de seu melhor amigo, um bailarino condenado em consequência da Aids. Nenhuma relação acaba sendo bem desenvolvida, a elegância inicial se esvai e a conclusão é blefe. A indicação para o Oscar, mas de filme estrangeiro, deve ser também o destino de "Ladrão", do russo Pavel Chukhrai. Uma viúva e um órfão da Segunda Guerra envolvem-se, logo após o fim do conflito, com um bandido de farda. Pulam de um apartamento coletivo a outro, de cidade em cidade, aplicando o mesmo golpe. O mesmo pode ser dito de "Combat de Fauves" (Jogo Perigoso), do francês Benoit Lamy, programado para hoje. Trata-se de uma fábula kafkiana contemporânea envolvendo dois solitários, um publicitário de sucesso e uma misteriosa viúva. Ela o prende durante dias num elevador, pelo mero prazer de dominá-lo. Ambos estão estupendos, mas incomoda o tempo todo a presença exótica do ídolo musical africano Papa Wemba como uma espécie de coro trágico. Texto Anterior: Evento na USP tem cinema e exposições Próximo Texto: Britânicos surpreendem Índice |
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